Dados de eficácia e segurança dos estudos fases 2 e 3 com a Suspensão Oral de Budesonida em adolescentes com Esofagite Eosinofílica
Prof. Dr. Ulysses Fagundes Neto
A renomada revista JPGN publicou o artigo intitulado “Pooled phase 2 and 3 efficacy and safety data on budesonide oral suspension in adolescentes with Eosinophilic Esophagitis”, de Mukkada V. e cols, em dezembro de 2023, que abaixo passo a resumir em seus principais aspectos.
Introdução
A Esofagite Eosinofílica (EEo) é uma enfermidade crônica imune mediada caracterizada por disfunção esofágica e infiltração eosinofílica na mucosa do esôfago, definida como, ≥15 eosinófilos por campo de grande aumento. A EEo pode afetar pacientes de faixa etária muito variável, nas crianças em idade escolar os sintomas mais frequentes incluem intolerância alimentar ou aversão, vômitos, queimação retroesternal e regurgitação. Por outro lado, impactação dos alimentos e mais frequentemente disfagia estão presentes em adolescentes e adultos. Somando-se à complexidade das manifestações clínicas na EEo, deve-se considerar que os sintomas são inespecíficos e podem não estar diretamente correlacionados com a intensidade da enfermidade. Além disso, vale enfatizar que não há sintomas patognomônicos estabelecidos para a EEo em crianças e adolescentes.
A despeito do aumento da prevalência da EEo, não há até o presente momento, um corticoide tópico deglutível disponível no mercado aprovado pelo FDA. Estratégias de manejo terapêutico são tipicamente limitadas ao uso informal de corticoides tópicos ingeríveis, inibidores da bomba de próton e dietas de eliminação. Considerando que as terapias farmacológicas informais (off-label) não estão especificamente otimizadas para uma ação direta sobre a mucosa esofágica, elas podem gerar tratamentos inadequados para os pacientes com EEo.
A Suspensão Oral de Budesonida (SOB) trata-se de um novo corticosteroide tópico, de liberação imediata, otimizado por uma suspensão viscosa para pacientes com EEo, com o objetivo de prolongar o tempo de permanência desta medicação sobre a superfície da mucosa esofágica após a deglutição. A eficácia e a segurança da SOB à dose de 2mg 2 vezes por dia, foram previamente estabelecidas em dois estudos randomizados duplo cego, placebo controlado em adolescentes e adultos com EEo {(idades de 11-40 anos) Fase 2} e {(idades 11-55 anos) Fase 3}.
Com a intenção de melhorar nossa compreensão a respeito da resposta específica ao SOB, em pacientes em idade escolar e adolescentes, um novo grupo foi constituído para avaliar o desempenho da eficácia e segurança da SOB 2mg 2x por dia, em pacientes com idades variando de 11 a 17 anos, em um período de 12 semanas comparando com placebo.
Resultados
A Tabela 1 identifica os dados demográficos básicos e as características clínicas dos pacientes incluídos no presente estudo.
A Figura 1 mostra a proporção de pacientes que apresentou resposta histológica, alívio da disfagia e resposta clínico-patológica, entre os pacientes que receberam a SOB em comparação com o placebo.
A Figura 2 demonstra as modificações desde a linha de base até 12 semanas, nos pacientes que receberam a SOB, em comparação com o placebo no que diz respeito aos diferentes parâmetros estudados.
Conclusões
Em conclusão, a terapia com a SOB durante as 12 semanas comparada com o placebo, apresentou uma inequívoca melhoria nos pacientes adolescentes no que diz respeito a avaliação histológica, endoscópica e clínico patológica. O alívio numericamente mensurável nos sintomas de disfagia em resposta ao tratamento com a SOB em comparação com o grupo placebo foi altamente significativo. A SOB foi bem tolerada nessa população sendo que todos os eventos adversos devido ao tratamento foram de intensidade leve a moderada. Vale ressaltar que essa é a primeira análise em um agrupamento de pacientes adolescentes com EEo tratados com SOB, em idades compreendidas entre 11 e 17 anos.
Meus Comentários
Lesões macroscópicas características de EEo evidenciando traqueização, manchas esbranquiçadas, erosão e sulcos verticais em um paciente que quando submetido ao tratamento com uma pasta de corticoide tópico com Mel desaparecem totalmente, bem como a contagem de eosinófilos se situa abaixo de 15 por campo de grande aumento, tende a sofrer recidiva quando a medicação é suspensa. Este é o caso de um paciente seguido durante 10 anos.
A busca de um tratamento específico para esta enfermidade crônica tem sido intensa. Inicialmente optou-se pela utilização de corticoterapia sistêmica, porém, os efeitos colaterais indesejáveis com o uso deste medicamento a longo prazo, fizeram com que se buscasse uma via alternativa para o uso do corticoide. Assim surgiu a proposta da utilização de uma pasta caseira de budesonida dissolvida em sucralose, para oferecer uma viscosidade que mantivesse o medicamento em contato com a superfície esofágica por tempo prolongado, a qual resultou eficaz. Na minha prática clínica, entretanto, por sugestão espontânea de uma mãe de um paciente portador de EEo, ela substituiu a pasta de sucralose por Mel, cuja substituição também resultou eficaz, o que, além disso, o Mel é muito mais bem tolerado. Desde esta sugestão passei a recomendar esta modificação aos meus pacientes e a resultante tem se revelado um inequívoco sucesso. Agora surge um novo produto no mercado farmacêutico que se mostrou seguro e eficaz, revelando um novo horizonte no tratamento desta enfermidade crônica. Espero que dentro em breve este produto esteja disponível no Brasil.
Referências Bibliográficas
- Mukkada VA e cols. – JPGN 2023;77:760-768
- Dellon ES & irano I – Gastroenterology 2018;154:319-32
- Syverson EP e cols. – JPGN 2023;77:256-9
- Shaheen NJ e cols. – Dis Esophagus 2018;31:1-14