Em El Calafate na Patagonia Argentina, os glaciais Perito Moreno, Upsala e Spegazzini representam uma dádiva da natureza, e, se descortinam com deslumbrantes visuais
Antecipando minha participação no (tema do próximo artigo),
aproveitamos Luciana e eu para fazermos uma viagem, desde há muito planejada, para El Calafate, em especial para conhecermos o mais famoso e o maior deles, o glacial Perito Moreno, mas também, os não menos importantes, Upsala e Spegazzini.
Não há voo direto para El Calafate, portanto, é necessário fazer conexão em Buenos Aires. No nosso caso tínhamos bilhetes comprados pela Aerolineas Argentinas (AA), mas o trecho inicial SP-BA foi operacionalizado pela Gol, que vale salientar foi uma lástima, total incompetência, tivemos que aguardar 2 horas no interior da aeronave porque estava faltando completar a tripulação. Este atraso colocava em risco nossa conexão para El Calafate, mas como o voo ia para o Aeroparque, que é central (equivale ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo), nos deixava mais tranquilos. Finalmente, chegamos a tempo para completar a conexão com folga, porque o voo da AA para El Calafate também estava atrasado em uma hora.
Em resumo, a viagem que deveria durar cerca de 9 horas durou 16 horas, porém, tudo foi de longe muito compensado pelo esplendor que a natureza, logo mais, iria nos brindar.
El Calafate está localizada na Patagônia Argentina distando 2.834 km de Buenos Aires, são 3 horas e 15 minutos de voo. El Calafate é uma pequena cidade localizada na província de Santa Cruz, próxima à fronteira com o Chile. Possui aproximadamente 22.000 habitantes. Dista cerca de 270 quilômetros da capital provincial, Río Gallegos
El Calafate surge nas primeiras décadas do século XX. Em sua origem, não era mais que um ponto de aprovisionamento dos transportes de lã, realizados em carretas desde as fazendas da região o que explica o nome originário de Kehek Aike. Foi fundada oficialmente em 1927 pelo governo argentino, com o fim de consolidar o povoamento da região. El Calafate é uma pequena cidade em franco desenvolvimento turístico, oferecendo boa estrutura hoteleira, um aeroporto moderno e ótimas opções de turismo. Suas estradas são muito boas, sinalizadas, porém de pouco movimento. El Calafate possui clima frio, com média anual de sete graus, temperaturas máximas por volta dos treze graus e mínimas por volta dos dez graus abaixo de zero. Na região, habitam exemplos extraordinários da fauna como o zorrino-patagônico (um gambá de faixa branca nas costas), o huemul (cervo), a águia Mora, os patos-das-torrentes, cauquenes, entre outros.
El Calafate se localiza às margens do Lago Argentino, o qual domina toda a região, e, inclusive também engloba o Parque Nacional Los Glaciares.
Conhecida como à Terra dos Glaciares, El Calafate fica próxima ao Campo de Gelo no sul da Patagônia Argentina. A cidade recebe em torno de mil turistas por dia e possui ótima estrutura turística, com hotéis, restaurantes, estâncias e outras atividades de ecoturismo e aventura. El Calafate ficou conhecida por ser a porta de entrada para o Parque Nacional los Glaciares, que abriga 365 geleiras, sendo algumas delas, as maiores do mundo. El Calafate é a cidade mais próxima do Parque Nacional Los Glaciares, a cerca de 80 quilômetros, onde se localiza a maior geleira em extensão horizontal do mundo: o Glaciar Perito Moreno, que se encontra em constante evolução. Também se localiza próximo de outras importantes geleiras, a saber: o Glaciar Upsala e o Glaciar Spegazzini.
A maior atração de El Calafate é o extraordinário Parque Nacional Los Glaciares, fundado em 1937 e declarado patrimônio da humanidade em 1981. Possui extensão de 725 mil hectares. Nele se localizam os glaciais Perito Moreno, Upsala, O’nelli, Spegazzinni, entre outros. Eles fazem parte do Campo de Gelo Patagônico, terceira maior reserva de água doce congelada do mundo, atrás apenas da Antártida e da Groelândia. São imponentes sentinelas de neve depositadas por séculos em suas origens, no alto da cordilheira dos Andes. Descem por extensões de que chegam a 170 quilômetros. O Glaciar Perito Moreno tem pontos com mais de 70 metros de altura nas faces de encontro com o Lago Argentino.
São formados basicamente de neve compactada, possuindo milhares de nuances do branco ao azul. Na sua maioria, terminam no Lago Argentino, onde se fragmentam desde farelo de gelo a grandes icebergs, descendo lentamente o leito do lago até seu derretimento.
Os glaciais movem-se até um metro por dia, atritando-se violentamente com o terreno, moldando-o e lançando no lago sedimentos finíssimos, que ficam em suspensão na água, formando o leito dos glaciais.
Nós nos hospedamos no hotel Blanca Patagonia, muito charmoso, que fica distante cerca de 4 km do centro de El Calafate.
O hotel está localizado em um outeiro, o que nos permitiu ter uma linda visão panorâmica do Lago Argentino. Desde o hotel a empresa de turismo nos buscava e nos levava para os passeios contratados. Como tivéssemos apenas 3 dias inteiros em El Calafate, optamos por realizar 2 excursões para conhecer os glaciais, com riqueza de detalhes, foram longas excursões com 8 horas de duração cada uma. Em primeiro lugar fomos conhecer o glacial Perito Moreno, e no segundo dia os glaciais Upsala e Spegazzini. O terceiro dia reservamos para dar uma caminhada, desde o hotel até o centro de El Calafate, para conhecermos a cidade, que, diga-se de passagem, é um primor, muito bem cuidada, com inúmeros bares, restaurantes de excelente qualidade, e, inúmeras lojas de variadas especialidades. Jantamos a primeira noite no hotel porque estávamos exaustos da interminável viagem desde São Paulo até o destino final, na segunda noite fomos conhecer um restaurante tradicional, Mi Viejo, e na última noite fomos conhecer o restaurante Mako. Em ambos fomos muito bem atendidos e a comida esteve de excelente qualidade. Vale ressaltar, que contrariamente ao que pensávamos, os preços estão proibitivos em toda Argentina.
Conforme acima referido, a primeira excursão foi feita para conhecer o glacial Perito Moreno. A Van nos buscou no hotel às 11:30 horas e nos levou para o Parque Nacional Los Glaciares, em uma viagem de cerca de 1:30 até o porto, para que pudéssemos embarcar no catamarã que navegou pelo Lago Argentino até alcançar as bordas do imponente e magistral glacial. Posteriormente, desembarcamos e aí pudemos ter uma outra visão do glacial, ao caminhar nas passarelas construídas ao longo do morro, contíguo ao glacial. Há inúmeros caminhos disponíveis para serem utilizados, com diferentes graus de dificuldade e distâncias a serem percorridas. Após a visita, rumamos de volta ao hotel, enfim estava terminada a primeira jornada.
Agora, diretamente para o jantar, e, para tal, elegimos um restaurante de longa tradição na cidade, o Mi Viejo, e, como estamos na Argentina, para começar, claro nada melhor do que um excelente bife de chorizo acompanhado de um vinho Malbec de Mendonza, tudo isso para encerrar esta primeira experiência extraordinária.
No segundo dia a mesma rotina, sempre circundando o Lago Argentino, porém em outra direção, para conhecermos os glaciais Upsala e Spegazzini. Chegamos ao Puerto Bandera e aí embarcamos no catamarã para navegarmos até as bordas do glacial Spegazzini, onde o catamarã permanece alguns longos minutos para que se possa apreciar o glacial em toda sua extensão.
Posteriormente, o catamarã muda a rota e navega por outro braço do lago em direção ao glacial Upsala, e, ao alcançar a borda do glacial o mesmo procedimento é realizado, porém, uma novidade é incorporada ao passeio, os marinheiros “pescam” blocos de gelo do lago para que possam ser colocados no interior de copos contendo whisky, e, assim, o passageiro pode desfrutar seu drinque com gelo do glacial, de fato uma verdadeira e inusitada sofisticação.
Terminada mais esta jornada de 8 horas de duração, decidimos jantar no próprio hotel.
O último dia em El Calafate reservamos para conhecer a cidade, fizemos uma caminhada de 4 km desde o hotel até o centro de El Calafate, apreciando as características da acolhedora cidade, para terminar a viagem com um lauto jantar no restaurante Mako.
No dia seguinte rumamos para Buenos Aires a fim de participar do 7° Congresso Mundial, evento que pela sua criação eu batalhei ardorosamente durante muitos anos, desde 1994. Felizmente, estamos já na segunda rodada da organização na América Latina. A primeira delas eu tive a honra de presidir, em 2008, em Foz do Iguaçu, portanto, considero que este evento está definitivamente consolidado. Fico com o claro sentimento de que cumpri plenamente o devido tributo ao meu eterno mentor Horácio Nestor Toccalino, que sempre sonhou para que este objetivo fosse tornado realidade.