LACTITOL: um laxante osmótico eficaz
INTRODUÇÃO
Constipação é uma queixa clínica de alta prevalência e é um grande estorvo para a qualidade de vida dos indivíduos afetados por este transtorno, desde um ponto de vista social como também profissional. Vários estudos epidemiológicos no mundo ocidental relatam que a prevalência da constipação alcança até cerca de 20% da população geral (1). Muito embora existam inúmeras causas de patologias orgânicas que provocam constipação, na imensa maioria dos casos trata-se de um transtorno funcional. Recentemente, a American College of Gastroenterology (ACG) (2) recomendou uma maior abrangência na definição da constipação: “Trata-se de evacuação não satisfatória caracterizada por pouca frequência e de difícil eliminação de fezes. Entende-se por difícil eliminação quando ocorre esforço, dor, dificuldade, evacuação incompleta e fezes endurecidas.” A ACG também definiu o significado de constipação crônica, a qual se caracteriza pela presença destes sintomas por pelo menos 3 meses. O tratamento tradicional da constipação inclui uma maior ingestão de líquidos e de fibras alimentares que funcionam como agentes formadores de fezes de consistência pastosa. Apesar da existência de alguns ensaios controlados que confirmam a eficácia desta proposta terapêutica, essas medidas tradicionais geralmente resultam ineficientes (3). Elas fracassam no objetivo de normalizar o hábito intestinal em até 40% dos pacientes e, muitas vezes, acabam por exacerbar outros sintomas, tais como dor abdominal, distensão e/ou flatulência (4).
Neste grupo de pacientes, que não responde de forma satisfatória ao tratamento tradicional, está plenamente indicada a utilização de laxantes osmóticos, posto que estes são comprovadamente efetivos e seu uso a longo prazo não acarreta efeitos adversos indesejáveis.
LACTITOL e Lactulose são dissacarídeos sintéticos que funcionam plenamente como laxantes osmóticos. Dentre estes, o LACTITOL devido ao seu sabor mais palatável é melhor tolerado e, portanto, mais eficaz do que a Lactulose (5).
LACTITOL: PROPRIEDADES FARMACODINÂMICAS
LACTITOL (Beta-galactosideo-sorbitol) é um açúcar-álcool. Por se tratar de um dissacarídeo sintético não é digerido no tubo digestivo, posto que não há um enzima específico (dissacaridase) capaz de produzir a sua hidrolise. Desta forma, portanto, permanece intacto nas porções superiores do intestino delgado exercendo efeito osmótico, arrastando água consigo, até alcançar o intestino grosso. Nos cólons, o LACTITOL torna-se disponível para a fermentação bacteriana por meio de um processo anaeróbico o que resulta na formação de gases (CO2, H2 e CH4) e ácidos orgânicos de cadeia média, tais como lático, acético e fórmico (6). No caso dos gases não serem aproveitados pelas bactérias, estes são absorvidos para a circulação sistêmica e, então, são excretados pela respiração ou mesmo nas fezes. Os ácidos orgânicos funcionam como partículas osmoticamente ativas, provocam aumento do volume fecal e estimulam o movimento peristáltico. Por esta razão, as fezes tornam-se de consistência mais pastosa devido ao aumento do conteúdo hídrico.
ENSAIOS CLÍNICOS NA POPULAÇÃO PEDIÁTRICA
Pitzalis e cols. (7), realizaram um estudo comparativo constituído por 51 crianças, com idades que variaram de 8 meses a 16 anos, com constipação crônica funcional entre LACTITOL (Grupo A) e Lactulose (Grupo B) por um período de 30 dias. Neste período de tempo ocorreu um aumento na frequência das evacuações estatisticamente significante após o tratamento com LACTITOL ou Lactulose (p= 0,001). Entretanto, ao se comparar os pacientes entre os Grupos A e B, estes últimos apresentaram maior frequência de dor abdominal (p= 0,005) e flatulência (62% vs. 32%) (p= 0,001). Além disso, os pacientes tratados com LACTITOL referiram que este produto mostrava-se mais palatável e por esta razão houve uma melhor adesão ao tratamento, em comparação com o grupo tratado com Lactulose. Martino e cols. (8), investigaram um grupo de 39 crianças que sofriam de estase intestinal, e que foram tratadas com LACTITOL ou Lactulose, de forma randomizada durante 15 dias. Os resultados mostraram que as crianças tratadas com LACTITOL apresentaram uma comprovada eficácia terapêutica, melhor tolerabilidade e adesão ao tratamento do que aquelas tratadas com Lactulose.
CONCLUSÃO
Esses estudos demostram que o LACTITOL em virtude de apresentar maior palatabilidade, menor frequência de efeitos colaterais indesejáveis (flatulência e dor abdominal) e propiciar maior adesão ao tratamento, deve ser considerado um laxante osmótico altamente útil no tratamento da constipação crônica funcional.
Referências Bibliográficas
- Spinzi, Giancarlo et al. Constipation in the Elderly: Management Strategies. Drugs & Aging 1. 2009;26:469-474.
- Drost J e Harris L. Diagnosis and management of chronic constipation. JAAPA 2006;19:24-31.
- Faruqui A e Joshi C. Lactitol: a review of its use in the treatment of constipation. Int J Recent adv Pharm Res 2012;2:1-5.
- Francis CY e Whorwell PJ. Bran and irritable bowel syndrome: time for reappraisal. Lancet 1994;344:39-40.
- Thompson WG. Laxatives: clinical pharmacology and pratical use. Drugs 1980;19:49-58.
- Schiller LR. Review article: the terapy of constipation. Aliment Pharmacol Ther 2001;15:749-763.
- Pitzalis G, Deganello F et al. Lactitol in chronic idiopathic constipation in children. Pediatr Med Chir 1995;17:223-6.
- Martino AM, Pescue F et al. The effects of lactitol in the treatment of intestinal stasis in childhood. Minerva Pediatr 1992;44:319-23.