A Vertiginosa Expansão da UNIFESP: 2003-08 Reitor: Ulysses Fagundes Neto
Preâmbulo
A história que a seguir será contada, deveria na verdade, já de há muito tempo ter sido relatada, a partir da data referida no título do presente trabalho. Entretanto, devido a inúmeros fatores que interferiram na minha vida e que fugiram ao meu controle, este relato foi sendo postergado no tempo, e, assim, permaneceu praticamente relegado a um plano secundário. Por outro lado, apesar desta aparente negligência pelos fatos por mim vivenciados nestes últimos anos, desde 2008, sempre foi mantida na minha memória uma centelha que me acalentava, me instigando para reviver momentos tão marcantes na minha vida pessoal e como gestor de uma universidade pública federal da grandeza da UNIFESP. O despertar para esta realidade se deu de forma repentina e mostrou-se incontida, quando por mera casualidade do destino, tomei conhecimento, em 4 de fevereiro de 2021, da dissertação da servidora federal da UNIFESP, sra. Maria Bernadete de Noronha Dantas Rossetto, intitulada “A EXPANSÃO DA GRADUAÇÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO NO PERÍODO DE 2003 A 2012”, apresentada para a obtenção do título de Mestre Profissional em Ensino, em Ciências da Saúde, do Programa de Mestrado, em Ensino em Ciências da Saúde, do Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde (CEDESS), cujos Orientadores foram Prof. Dr. Nildo Alves Batista e Paulete Goldenberg. Este trabalho de dissertação foi apresentado em 2017 e recebeu aprovação unânime da Banca Examinadora.
Durante a leitura do trabalho de 156 páginas, que o fiz de uma sentada, sem interrupção, vi como um filme sendo projetado diante dos meus olhos, em uma tela por mim imaginada, os quais se tornavam muitas vezes úmidos pelas lágrimas incontroláveis que insistiam em rolar pela minha face, pela emoção incontida, à medida que avançava nas páginas da referida tese, o desenrolar daqueles fantásticos e inesquecíveis acontecimentos. Sentia como se estivessem acontecendo naqueles meros momentos, as vibrações de grande euforia, na ampla maioria do tempo, e, em outros momentos, felizmente bem menos frequentes, de frustrações, as quais também fizeram parte desta verdadeira epopeia, cujos sentimentos a seguir irão se constituir no conteúdo desta narrativa.
A minha relação visceral com a Escola Paulista de Medicina
“De armas vencidas e almas vencedoras, mal saía São Paulo de um desastre heroico que o deveria abater se fosse fraco, mas que só o exaltou porque é forte, já sua terra – terra ainda morna dos corpos que se esfriaram sobre ela, beijando-a, lançava-se há pouco mais de três anos uma semente milagrosa: a da Escola Paulista de Medicina” Discurso do poeta Guilherme de Almeida no lançamento da estaca fundamental do HSP em 30 de setembro de 1936
Transcrição da entrevista, editada, revista e ampliada, com o reitor Ulysses Fagundes Neto – Unifesp (dezembro de 2007)
Meu nome é Ulysses Fagundes Neto, nasci em São Paulo, em 16 de setembro de 1944. Naquela época a segunda guerra mundial ainda estava vigente, porém, já em seus últimos estertores. Meu pai, Ulysses Fagundes Filho, era advogado, mas como na sua juventude havia servido o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), devido à sua formação pelo CPOR, ele foi convocado para servir o exército durante a segunda guerra mundial, e permaneceu baseado em Pirassununga. Em decorrência da convocação do meu pai, logo após meu nascimento, fui com minha mãe Walkyria Lobo Fagundes para Pirassununga, onde lá morei até o fim da guerra, em meados de 1945 (Figuras 1-2).
Nasci na Vila Mariana, em frente ao Instituto Biológico, na casa de meu avô, onde moro hoje (2007). Já morei lá cinco vezes, essa é a passagem mais longa, estou lá desde 93. Essa casa é muito, muito antiga, é de 1927, foi construída pelos irmãos Rossi, dois arquitetos italianos, que trabalhavam naquela época no escritório do engenheiro Ramos de Azevedo (Figuras 3-4-5-6-7).
Fui praticamente criado por esse meu avô paterno, ele é do lado dos Fagundes (Figura 8).
Ele tinha uma grande afeição pela família, teve dois filhos, meu pai e minha tia Yvonne. A minha tia é a mais velha, meu pai teve dois filhos, eu e minha irmã Tânia, minha tia teve três filhos, todos com idades próximas, estou situado no meio, sou o terceiro e carrego o nome do meu avô, Ulysses Fagundes, o que sempre foi uma grande responsabilidade. Meu avô era casado com minha avó Juventina de Sousa Fagundes (Figuras 9-10-11-12-13).
Nós cinco fomos criados na Vila Mariana, era uma relação muito próxima, pois morávamos a pequena distância uns dos outros. Meu avô era seguramente uma pessoa 50 anos à frente do seu tempo, formou–se médico no Rio de Janeiro, em 1913, naquela época ainda não havia nenhuma Faculdade de Medicina no estado de São Paulo, a da USP, que foi a primeira, foi fundada em 1913. Ele nasceu em 1887, eu até brincava com ele dizendo que ele era tão antigo que havia nascido antes da abolição da escravatura.
Desde que nasci, ficou praticamente decidido que quando crescesse seria médico, da mesma forma que o filho do meio da minha tia, foi uma decisão familiar. Como meu avô tinha uma grande influência, carisma, era amado por todos, ninguém se contrapôs a essa ideia. Ele era uma figura muito popular, morávamos em frente ao Instituto Biológico, como ele já havia se aposentado, atendia todo o pessoal do Biológico. Minha mãe trabalhava no Biológico, tínhamos uma convivência muito grande com os funcionários, era só atravessar a rua. Naquele tempo o Biológico não era cercado por grades, minha infância passei praticamente dentro do Biológico, conhecíamos todo mundo lá.
Na minha infância também tentaram me fazer pianista, durante algum tempo estudei piano, mas não saía da escala, não tinha talento, mas, para agradar à família ia religiosamente à aula, a professora morava perto de casa, ia lá, tocava a escala, realmente não tinha talento para isso, até que um dia desisti desta arte. Também estudei inglês, esse com mais dedicação, meu pai já achava importante falar outro idioma, isso lá nos idos anos 50, estudei inglês e me tornei fluente no idioma, o que muito me ajudou no futuro, pessoal e profissionalmente.
No colégio já era atraído por matérias ligadas à Medicina, afinal, estava decidido que seria esse o meu caminho, eu gostava bastante dessas matérias. Creio que também foi uma transmissão de algum gene que me trouxe para essa atividade, tanto que fui muito bom aluno em Física, Biologia, Botânica, Química Orgânica e Inorgânica, coisas que domino até hoje em minha atividade. Eu não era bom aluno em Matemática, mas era em Português.
A minha educação, teve um misto de tradicional e despojada, porque meu avô paterno era muito popular, desprovido de qualquer vaidade e preconceitos, inclusive tenho comigo a tese de formatura dele, de 1917, que ele dedicou à sociedade humanitária e ao humanismo, nós fomos criados com esse espírito, o humanismo.
Estudei no Liceu Pasteur do jardim de infância até o primário, depois fui para o Colégio Bandeirantes, lá fiz o ginasial e o científico.
Meus pais eram sócios do Esporte Clube Banespa, foi lá que eles se conheceram, depois de casados continuaram a frequentar o clube, e, portanto, desde pequeno eu também ia para o clube (Figuras 14-15).
Na adolescência boa parte minha vida eu passava no Banespa, chegava do colégio, almoçava e ia para o Banespa. Eu pegava o bonde em frente ao Biológico, ali começava a linha férrea que ia até Santo Amaro, e descia na parada Petrópolis, ia para o Banespa fazer algum esporte, de preferência futebol e vôlei, também socializar com meus amigos, voltava de noite para jantar em casa.
Sempre joguei vôlei, futsal e futebol, lá no Banespa tínhamos o time juvenil de futebol, o time juvenil de futsal, disputava o campeonato paulista, fomos campeões paulistas, e o time juvenil de vôlei, que também disputava o campeonato paulista da categoria (Figura 16).
Fui duas vezes convocado para a seleção paulista juvenil de vôlei para disputar os campeonatos brasileiros (1961-62) da modalidade (Figura 17).
O meu primeiro time oficial de futebol foi o juvenil do Banespa, onde comecei, quando tinha 14 anos (Figura 18).
Meu avô materno Valdomiro da Cunha Lobo, o Lobo, foi um grande jogador de futebol, foi ele quem me ensinou a jogar (Figura 19).
Meu avô Lobo e eu ainda lactente. Foi ele que me iniciou na prática do futebol em sua chácara no Guarapiranga.
Ele era casado com minha avó Zizinha Machado da Cunha Lobo que era de Santo Amaro, a família da minha avó era tradicional em Santo Amaro, fazia parte dos Botinas Amarelas, na época que Santo Amaro era um município independente da cidade de São Paulo. Meu avô Lobo tinha uma chácara no caminho de Guarapiranga, e, em frente tinha um campo de futebol, foi lá que aprendi a jogar bola com ele desde pequeno. Quando tinha 16 anos, fui promovido ao time principal do Banespa, foi um grande acontecimento para mim, jogávamos aos domingos de manhã, o campo, que era oficial de dimensões máximas, ficava lotado de torcedores da região do Brooklin. Como me destacasse muito desde a estreia, fazia muitos gols, fui convidado para jogar no São Paulo Futebol Clube, o que muito me honrou, mas acabei não indo, sem saber ao certo o porquê. Somente muitos anos depois, já adulto, descobri que meu pai havia feito um complô, não permitiu que eu assinasse o contrato, não queria que eu fosse ser jogador de futebol, queria que a minha atividade futebolística fosse apenas em nível amador. Mas como eu era insistente, lá em Santo Amaro joguei num time de futebol profissional, chamava-se Minister, que disputou o campeonato paulista da terceira divisão, posteriormente da segunda divisão, ganhamos as duas, mas quando chegamos à primeira divisão, não pude mais jogar por causa da faculdade. Já como estudante de medicina joguei por uma fábrica em Mauá, ganhava uns trocados para o fim–de–semana, e, também joguei na várzea, em vários lugares.
Posteriormente, depois dos 18 anos minha grande atividade como jogador de futebol foi no Clube Atlético Indiano (CAI), disputando os campeonatos internos, que eram altamente competitivos porque muitos ex-profissionais também participavam daqueles campeonatos. Joguei também pela seleção do CAI, disputamos os campeonatos interclubes de São Paulo, onde nos sagramos bicampeões (Figura 20).
Seleção do Clube Atlético Indiano que disputou os campeonatos interclubes da cidade de São Paulo. Estou agachado, sou o antepenúltimo à esquerda.
Cheguei mesmo a jogar contra a Seleção Olímpica Brasileira que disputou os Jogos Panamericanos de 1963, empatamos em 2×2, eu fiz os gols do CAI. Por todos esses fatos anteriormente narrados, eu considero que o futebol foi uma grande paixão na minha vida.
Na hora de escolher a faculdade que iria cursar, não era tão difícil essa escolha, naquela época não havia muitas opções, existiam poucas Faculdades de Medicina no estado de São Paulo. O primeiro vestibular que prestei foi em 1963-64, logo após haver terminado o científico, os exames eram independentes, separados, fiz alguns, mas era uma maratona, prestei exames em Campinas, Sorocaba, USP, Santa Casa e Paulista, começavam em dezembro e iam até março, uma verdadeira maratona. Como era recém-saído do científico, não consegui nenhuma vaga. Em 1964, frequentei o Curso Vestibular Nove de Julho, localizado no bairro da Liberdade, em frente ao largo. Desta vez fui muito bem, logo no primeiro exame vestibular daquele ano, o da Santa Casa, que era isolado, entrei em décimo–terceiro lugar, depois foi a primeira vez do exame unificado, o CECEM, que prestei em 1964-65. Minha primeira opção foi a USP, a segunda foi a Paulista. Como minha colocação foi entre 100 e 200, 112, coisa assim, entrei na EPM. Foi até certo ponto frustrante não ter conseguido entrar na USP, pois era a maior referência no estado, posto que no primeiro exame havia entrado na Santa Casa, em décimo–terceiro lugar.
Apesar disso, acho que acabei entrando na EPM porque, mesmo sem referências especiais, as minhas relações com ela são antigas. Como morava em frente ao Biológico, o trote dos calouros era feito nas piscinas de lá, uma vez por ano eu via um bando de gente pintada, seminua, acompanhada por outro grupo que vestia avental branco, os veteranos, que traziam os calouros para mergulhar nas piscinas do Biológico. Depois de mergulhar nas piscinas alguns calouros vinham se lavar na minha casa, pois havia uma torneira no portão de entrada, eu ficava olhando do terraço, mas não entendia bem o que representava todo aquele movimento, que coisa mais estranha era aquela. Além disso, muitos veteranos iam até o Liceu Pasteur, levavam os calouros até lá atados a uma coleira, como se pode perceber esta é uma relação antiga, eu tinha aproximadamente sete anos de idade. Outro acontecimento que me conectou com a EPM, na verdade com o Hospital São Paulo, foi decorrente de um verdadeiro um acidente doméstico, quando eu devia ter uns 10 anos de idade, que envolveu minha irmã Tânia. Em uma determinada noite, nossos pais haviam saído para jantar fora de casa, nós estávamos sós e minha irmã propôs uma brincadeira de mão, para ver quem conseguiria torcer o dedo do outro primeiro. Infelizmente, na primeira tentativa eu quebrei o dedo polegar dela, e, então, tivemos que ir com urgência para o Hospital São Paulo. Fiquei com um grande sentimento de culpa e fui acompanhá-la até o hospital. Em lá chegando ela foi atendida por um jovem ortopedista chamado Dr. Valdemar Carvalho Pinto, que posteriormente se tornou um renomado profissional e depois, por muito tempo, foi Diretor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa.
Outra relação com a EPM é que essa região onde ela está localizada, uma grande área fazia parte das terras da família, dos Fagundes. Inclusive reza a história que essa igreja que tem aqui perto, na Domingos de Morais, o terreno foi doado pelo meu bisavô, pois fazia parte das terras dele. Os Fagundes estavam aqui havia muito tempo. Outro dia, indo ao museu Afro–Brasil, casualmente vi um mapa da cidade de São Paulo do século XIX, e aí pude identificar nitidamente os sítios dos Fagundes, que iam desde a Liberdade até o Jabaquara, um deles era do meu bisavô Alfredo (Figuras 21-22-23).
Quando entrei na Paulista, o trote foi suave, porque sabiam que eu era esportista, era uma Escola pequena, só 600 alunos, nós disputávamos competições importantes, então, quando entrava um esportista ele era muito celebrado. Além disso, eu praticava três esportes, futebol, vôlei e futsal, o que representava um valor agregado muito grande para as disputas dos eventos esportivos. Estas habilidades tinham um grande valor na vida da Escola.
Defendendo a nossa Atlética Pereira Barreto disputei as Pauli-Polis, as Pauli-Meds, as Intermeds que envolviam todas as faculdades de Medicina do estado de São Paulo, e os campeonatos universitários paulistas da Federação Universitária Paulista de Esportes (FUPE). No meu último ano do curso, em 1970, nos sagramos campeões, e, para minha imensa alegria fui eleito o atleta do ano da FUPE na modalidade futebol (Figura 24).
Na universidade também fui campeão brasileiro universitário de vôlei disputado em Niterói, em 1965, pela seleção da FUPE. Neste mesmo ano no campeonato da FUPE ficamos em terceiro lugar e eu fui eleito o atleta do ano na modalidade. Em 1969 nos sagramos vice-campeões no campeonato da FUPE.
Na primeira Pauli–Poli que disputei, em 1965, fazia 15 anos que a Escola não ganhava, e, nesse primeiro ano vencemos a competição geral, inclusive vencemos em alguns esportes que não ganhávamos havia muito tempo. No futebol ganhamos de cinco a dois, marquei dois gols, no vôlei, havia 20 anos sem ganhar, nós ganhamos, eu era o capitão do time, e, por fim, também vencemos no futsal. Naquela época os esportes de salão eram disputados no ginásio do Pacaembu, a partida de futsal foi a decisão geral da competição, quem ganhasse aquele jogo se tornaria o campeão da Pauli–Poli daquele ano. O ginásio estava completamente lotado, porque antes do jogo final, durante a semana já se sabia que neste jogo seria disputada a taça. Muitos médicos, que haviam se formado havia muito tempo, nunca haviam vencido a Pauli–Poli, vieram de vários locais, inclusive do interior, estavam lá, ginásio lotado, cheio de expectativa, foi muito emocionante. O jogo começou, duríssimo, o time deles era muito bom, começamos perdendo de um a zero, viramos para dois a um e ganhamos a Pauli-Poli de 1965, foi uma festa interminável, varou a madrugada, nunca poderia imaginar a transcendência daquela conquista (Figuras 25-26).
Para que se tenha uma pequena ideia da importância desta disputa para a nossa Escola, faltei a algumas aulas práticas de Biofísica para treinar, os treinos aconteciam na hora do almoço, se estendiam, atrasavam, mas no final do semestre tinha que prestar o exame prático, que era dificílimo. Eram 20 pontos, eu tinha frequentado 19 aulas práticas, em uma delas eu não havia participado, portanto, não dominava a parte prática daquele tema. Tínhamos que sortear um ponto para executar a parte prática, não deu outra, sorteei o ponto que eu não havia assistido a aula. Era uma experimentação bastante sofisticada, o transporte de íons pela pele do sapo, transporte iônico, osmose, era em aparelhos novos de última geração, recém comprados pela Escola. Fiquei olhando a aparelhagem, sabia os cálculos, mas não sabia montar aquilo, fiquei mexendo, tentando dar um jeito, mas não obtinha sucesso, até que o professor Paiva (Professor Titular de Biofísica), que estava me examinando mandou eu parar de mexer na aparelhagem, porque poderia destruir o modelo. Ele, então, assumiu o controle e montou o sistema para mim, e, após deixar todo o sistema montado me disse muito seriamente, “isto vale pelos seus dois gols na Pauli–Poli, agora o jogo está zero a zero, daqui em diante é com você”, então, mesmo suando frio, consegui fazer o experimento. Outra história interessante decorrente do fato de termos vencido o jogo de futebol da Pauli–Poli foi o que ocorreu comigo no exame de Anatomia. No primeiro ano, nós tínhamos na Anatomia o professor Prates, que era o primeiro assistente do professor Locchi, ele se tornou grande amigo da nossa turma e foi assistir ao jogo de futebol da Pauli-Poli no estádio do Pacaembu. Quando o jogo terminou, professor Prates foi ao vestiário nos cumprimentar, me disse que eu já estava com pelo menos nota sete no exame final de Anatomia, pelos gols que eu havia marcado. Era uma brincadeira, mas o problema é que levei a promessa a sério, na hora da prova fui cobrar a nota sete, mas o professor Prates não era meu examinador, a prova era com outro professor, ele queria me dar pau, me acusou de tentar suborná-lo. Para minha sorte o professor Prates estava por perto, assistiu a cena e interveio, explicou que era uma brincadeira que ele tinha feito comigo, que eu havia levado a sério, havia sido um mal-entendido. Finalmente realizei o exame e fui aprovado sem nenhuma interferência externa (Figura 27).
Ainda no campo esportivo, vale lembrar da Pauli-Med, pela sua importância em si e pela enorme rivalidade entre as duas faculdades. A primeira edição da competição foi realizada em 1965, ano do meu ingresso na EPM. Logo na primeira disputa, o futebol, sofri um choque ao ouvir a musiquinha que o pessoal da Pinheiros cantava, repetida e incessantemente, para nos insultar: “Fede, fede, fede refugo da Med”. Contrariamente ao que eles desejavam, isto não me causava qualquer abatimento moral, mas sim uma grande indignação, me enchia de brios e ganas de vencer todas as disputas. Nesta primeira edição empatamos no futebol (2×2), ganhamos no futsal e no vôlei, mas perdemos na contagem geral (Figura 28).
Por outro lado, vencemos todas as outras 5 edições, em todas ganhamos no futebol, futsal e vôlei. Em 1967, meu avô Lobo foi assistir o jogo de futebol no estádio do Pacaembu. Ele ficou completamente envolvido com a partida, acompanhou o jogo inteiro em pé, corria de um lado para o outro acompanhando o movimento da bola. Era a primeira vez que ele me via jogar desde quando ainda menino me havia orientado a respeito dos princípios fundamentais do futebol. Para minha felicidade e dele também, marquei 2 gols, vencemos de 4×1, assim, eu pude retribuir a quem me ensinou o jogo da bola a alegria de ver seu discípulo brilhar. Infelizmente, ele faleceu de infarto no ano seguinte.
Em 1969, quando já cursava o quinto ano de Medicina, num fim de semana jogando futebol pela seleção do CAI contra a seleção Brasileira que iria disputar as Macabíadas, em Israel, sofri, num choque com o goleiro adversário, uma dupla luxação esterno-clavicular, o que me causava dor intensa mal podia respirar, praticamente me impossibilitava movimentar o tronco e os braços. Entretanto, vivíamos a semana decisiva da Pauli-Med, tínhamos um jogo de futebol cujo resultado seria vital para nossa vitória na competição geral. Eu era o capitão do time, exercia uma liderança importante no grupo, precisava entrar em campo de qualquer forma, além do mais havia um outro fator de complicação, pois o jogo seria realizado no campo do inimigo, lá na Atlética deles. Corri desesperado ao Jonas, nosso enfermeiro da ortopedia, praticamente suplicando para que ele resolvesse meu problema. Jonas com seu olhar paciente, quase de deboche, me disse: “vou lhe fazer um colete de gesso do pescoço até a cintura e se você conseguir se equilibrar vai poder jogar”. Dito e feito, o colete foi providenciado e em mim colocado, fiquei completamente enrijecido, mas pelo menos me vi livre da dor que tanto me incomodava. Apresentei-me para jogar, ninguém podia acreditar que eu teria condições para tal, mas como era veterano e capitão do time o poder da influência falou mais alto, desta forma entrei em campo. Digo entrei em campo, pois isto foi literalmente o que ocorreu, não conseguia me movimentar e tampouco me equilibrar com aquela verdadeira armadura medieval, mas assim permaneci por todo o tempo, até que no fim do jogo, que se mantinha num irritante zero a zero, houve uma falta a nosso favor próximo da área do adversário. Com a prepotência de todo bom veterano decidi que bateria a falta, não havia naquele momento a mais mínima possibilidade de me impedirem que isto ocorresse, porque naquela época havia hierarquia e esta era rigidamente respeitada. Bem, assim se sucedeu, bati a falta, fiz o gol, ganhamos o jogo e mais uma Pauli-Med, a quarta consecutiva, tudo por obra e graça da armadura que o Jonas inventou de me colocar.
A Intermed teve sua primeira edição realizada em 1967, em Botucatu, que nós vencemos, perdemos em Campinas em 1968, mas voltamos a vencer em 1969, em Botucatu, e em Santos, no meu último no como acadêmico, em 1970 (Figuras 29-30-31-32-33).
Esta última edição foi uma verdadeira epopeia, porque a competição estava muito parelha com a Pinheiros até os últimos momentos. Restava apenas disputar 2 modalidades e ambas eram entre nós e eles, futsal e vôlei. Tínhamos que vencer ambas as partidas para nos sagrarmos campeões gerais da Intermed daquele ano. No primeiro jogo, futsal vencemos por 2×1, o último jogo era o vôlei, éramos franco favoritos, vencemos por 3×0, nos sagrando tricampeões da Intermed, na minha despedida. Quando o jogo de vôlei terminou, nossa torcida invadiu a quadra para celebrar a grande conquista, fizeram uma festa incrível, emocionante! Em um determinado momento, um grupo de colegas me carregou nos ombros para dar a volta de triunfo e se encaminharam em direção à torcida da Pinheiros, que havia lotado a arquibancada oposta à nossa. Naquele momento eu imaginei que pela nossa entranhável rivalidade, fosse ocorrer alguma reação agressiva contra mim e nosso grupo. Entretanto, para surpresa geral, quando nos aproximávamos da arquibancada da torcida da Pinheiros, houve uma reação de reverência e reconhecimento, puseram-se em pé e me aplaudiram longamente, o que muito me emocionou. Anos mais tarde, já médico em plena atividade conversando com amigos graduados pela Pinheiros, soube que me haviam alcunhado um epíteto de “A locomotiva da Paulista”, em alusão às minhas performances durante os 6 anos de renhidas disputas (Figuras 34-35-36).
Logo que entrei na EPM, tinha a ideia de fazer clínica geral, cirurgia nunca fez parte dos meus planos, nunca tive talento nem paciência para usar um bisturi, nem ficar dissecando. Para mim, era uma tortura ficar na Anatomia dissecando, queria ter relações com as pessoas, então, tinha certeza de que faria alguma especialidade clínica. Também sempre tive uma preocupação social, porque joguei futebol em vários lugares da periferia da nossa cidade, passei por muitas favelas, convivi com muita pobreza, me comovia ver as crianças abandonadas, a miséria, a desigualdade social, esta situação sempre me incomodou muito. Entendia que a melhor forma de ajudar na questão social era trabalhar com as crianças, assim minha tendência natural foi me dedicar à Pediatria. Mas queria trabalhar na Pediatria com algo que envolvesse o drama social, por isso me aproximei da Medicina Preventiva. Entretanto, não encontrei nesta Disciplina um estímulo que fosse suficientemente importante para me envolver com ela, então, me voltei para a Pediatria. Na Pediatria não posso dizer que tive um modelo, mas uma pessoa que me ensinou e ajudou muito foi o Dr. Jamal Uehba, que também foi professor da EPM. Ele era um grande pediatra, jovem, progressista, me estimulou muito na Pediatria, nos tornamos muito amigos, depois fomos sócios, trabalhamos juntos durante muitos anos.
Quando fiz Pediatria, me dediquei ao binômio diarreia-desnutrição, foi onde me sentia realmente útil à sociedade como cidadão e médico. Foi neste campo de atuação que decidi praticar minha especialidade, a Gastroenterologia Pediátrica, mas muito voltada para as questões sociais, porque diarreia era a primeira causa de mortalidade infantil naquela época. No terceiro ano de residência, em 1973, fui para a Argentina, porque lá estava o pioneiro da Gastroenterologia Pediátrica, um argentino, Dr. Horácio Toccalino (Figura 37). Tudo isso porque naquela época ainda não existia uma superespecialização na Pediatria, o pediatra era um clínico geral, isso me incomodava, por não ter a segurança de ser um médico de abrangência global, de saber todas as coisas, porque lidávamos com pacientes extremamente graves, havia situações em que me sentia completamente impotente, senti que assim não seria útil. Por personalidade própria nunca me satisfiz em conhecer apenas a superfície, sempre dei preferência por conhecer a profundidade, queria não só saber a consequência, mas a causa, o âmago da questão. Por isso fui fazer meu terceiro ano de residência na Argentina, pois essa viria a ser a minha área de atuação, a Gastroenterologia Pediátrica.
Consegui ir para a Argentina da seguinte maneira: quando era interno, no sexto ano do curso, em 1970, celebrou–se o cinquentenário da Associação Paulista de Medicina com a organização de um grande curso de atualização. Para o curso na área da Pediatria foram convidados três professores internacionais. Dentre os professores, dois eram europeus, um alemão, Svoboda, ortopedista e um suíço, Fred Bamatter, um senhor bem velhinho, já estava na fase filosófica da medicina, estudando as assimetrias do corpo, mostrando fotos, e o terceiro um argentino Horácio Toccalino. Assisti esse curso e me impressionei muito com o que Toccalino apresentou. Depois de fazer o primeiro e o segundo anos da residência, Jamal me recomendou que eu deveria fazer uma especialização, que havia a possibilidade de fazer o terceiro ano fora do país. Como ele tivesse uma informação do Nóbrega (Fernando José, Professor da UNESP), que estava em Botucatu, ele havia mandado uma residente para treinamento com Toccalino, em Buenos Aires, aventamos essa possibilidade. Ela se concretizou, de fato, durante a realização do Congresso Pan–Americano de Pediatria, em Córdoba, em 1972. Jamal e eu havíamos conseguido duas passagens aéreas para ir a Córdoba, aí se apresentaria a oportunidade de falar diretamente com Toccalino, assim foi feito. Em lá chegando tratei de encontrar Toccalino o mais rapidamente possível, o que de fato aconteceu. Apresentei–me pessoalmente, expliquei a minha aspiração, ele foi muito atencioso e falou que eu poderia ir tranquilamente fazer o treinamento com ele. Era a primeira vez que alguém iria sair, durante a plena vigência da residência, para fazer uma especialização fora do país, era algo absolutamente inédito. Tive até que ir meio escondido, foi um compromisso que assumi com o chefe do Departamento de Pediatria, professor Azarias (Andrade de Carvalho), que me disse que os membros da Comissão de Residência da EPM nem iriam saber que eu havia ido.
Me casei em 1971, praticamente assim que me graduei, tive três filhos, o primeiro em 72, a segunda em 74 e a terceira em 75, portanto, um menino e duas meninas. O meu filho mais velho foi para a Argentina conosco, com um ano de idade. Assim que chegamos a Buenos Aires, minha mulher, Eurídice, e eu fomos procurar um lugar para morar. Fiquei surpreso, porque não se alugavam casas na Argentina, as pessoas tinham casa própria, era muito difícil encontrar um imóvel para alugar, passamos dez dias tentando arranjar um lugar para morar, já estávamos desesperados, mas enfim conseguimos um apartamento, no último andar de um prédio baixo sem elevador. Era em um bairro judeu, chamado La Paternal. Logo após termos nos instalado, minha mulher voltou para São Paulo para buscar nosso filho e se mudar definitivamente. No dia que chegaram fui buscá-los no aeroporto de Ezeiza, quando avistei o avião perdendo altura para aterrizar, fiquei angustiado, afinal, lá estavam minha mulher, meu filho e minha mãe, toda a minha vida, toda a minha riqueza estavam naquele avião, ele não podia cair, eu não aguentaria. Foram minutos angustiantes, fiquei realmente sofrendo vendo a chegada deles. Até que finalmente eles chegaram, Eurídice vinha com Uly no colo, ele havia acabado de completar 1 ano de idade, ela então falou que tinha uma surpresa para mim. Ela o colocou de pé no chão e ele veio andando me abraçar, foi uma enorme surpresa, pois quando tínhamos saído de São Paulo, ele ainda não andava, ele veio caminhando com seus primeiros passos trôpegos, foi um momento muito emocionante (Figura 38). Depois, no fim da nossa estadia em Buenos Aires, em novembro, Eurídice engravidou da Juliana e veio embora antes, eu voltei no fim de dezembro. Em junho 1975 nasceu nossa última filha, Marina, já no Brasil.
Um grande motivo para ter decidido fazer pesquisa em alto nível foi porque, como morava em frente ao Biológico, que era um grande centro de pesquisadores, lembro das conversas em casa, do meu pai falando, quando eu ainda era menino, da admiração que ele tinha pelos cientistas, a importância da ciência, de produzir conhecimento. Mesmo sendo um advogado, ele enaltecia muito a atividade científica, a pesquisa, e, como eu tinha muita admiração por ele, cresci com aquilo na cabeça, se quisesse fazer alguma coisa profissionalmente importante que o agradasse, teria que ser um agente de transformação, atuando ativamente na produção do conhecimento. Consequentemente, para poder atingir meu objetivo já tinha a ideia de seguir na carreira acadêmica tornar-me Professor de Pediatria na EPM. Por outro lado, também era necessário exercer uma atividade na clínica privada, era um complemento, porque naquela época, assim como hoje, a remuneração pecuniária na universidade era muito baixa. Tornava-se inevitavelmente necessária esta atividade complementar, mas eu fazia consultório apenas no final da tarde após as 17:00 horas e invadia a noite.
Quando voltei da Argentina, em 1974, fui contratado pelo Departamento de Pediatria, pois não havia abertura de vagas para concurso pela universidade, naquela ocasião. Então, o Departamento de Pediatria, através do centro de estudos, me contratou para desempenhar atividade docente. Felizmente, logo a seguir, em 1975, foram abertas vagas para concurso público, prestei o concurso, fui aprovado, me tornei professor, na época Professor Auxiliar, pois eu ainda não tinha nenhum título, a pós-graduação estava recém começando. Por outro lado, como eu tinha muito contato com o pessoal da clínica médica, a primeira área de ebulição com a pós-graduação, interessei-me em cursar a pós-graduação. Como o Departamento de Pediatria ainda não havia criado nenhum curso de pós-graduação, consegui me inscrever no Mestrado do IBEPEGE, Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas em Gastroenterologia. Este instituto havia conseguido o credenciamento para abrir um curso de Mestrado graças a influência política que seus membros tinham em Brasília. Inscrevi-me no Mestrado do IBEPEGE, e, em paralelo desenvolvi um trabalho no Parque Nacional do Xingu, de avaliação do estado nutricional das crianças índias, o qual resultou na minha tese de Doutoramento, apresentada no Departamento de Pediatria da EPM. Como não se sabia ainda como iria evoluir a pós-graduação, havia muitas incertezas, apresentei a tese de Mestrado no IBEPEGE, tendo como tema as alterações morfológicas em biópsias do intestino delgado em crianças desnutridas, em março de 1977. Em abril de 1977 apresentei a tese de Doutoramento na EPM. No espaço de um mês, defendi duas teses, a primeira no IBEPEGE e a segunda na EPM, e, ainda em 1977, logo após as apresentações das teses fui para os EUA (Figura 39).
Minha progressão na pesquisa iniciou-se a partir dessa experiência em Buenos Aires, onde alcancei um grande salto de qualidade. Produzi três trabalhos de pesquisa, em investigação clínica, em um ano o que é um feito bastante raro. Por coincidência, em 1974, foi realizado o Congresso Mundial de Pediatria, em Buenos Aires, aí tive a oportunidade de apresentar meus trabalhos, na sessão de Gastroenterologia Pediátrica. Considerando que os temas que abordei eram muito atuais, o presidente da mesa onde eu estava apresentando os trabalhos era um mexicano, Fima Lifshitz, que morava nos EUA, ele estava em grande evidência no momento, viu minha apresentação e ficou muito interessado na minha linha de pesquisa. No ano seguinte, em 1975, já como docente trabalhando na EPM, foi realizado em São Paulo o Congresso Pan–Americano de Pediatria, e, Fima Lifshitz veio como convidado. Como eu já houvesse produzido novos trabalhos aqui na EPM, eu os apresentei, Fima ficou novamente muito impressionado com a qualidade dos meus trabalhos, então decidiu me convidar para ir trabalhar com ele, em investigação experimental, nos EUA.
Fui para Nova York em 1977, trabalhar no North Shore University Hospital, afiliado da Cornell University. Foi neste serviço que me envolvi com uma área que até então não fazia parte da minha carreira acadêmica, uma prática na qual não tinha experiência, a investigação experimental. Eu me dediquei nesta área em duas frentes de trabalho, a saber: perfusão intestinal em ratos e biologia celular, em microscopia eletrônica (Figuras 40-41-42).
Estava muito bem, fiquei dois anos em Nova York, realizando trabalhos em pesquisa experimental, que resultaram na produção de três artigos científicos que foram publicados em periódicos internacionais de elevado fator de impacto. Foi um período de grande produção científica, porque tudo que se fazia nessa linha da investigação experimental, a perfusão intestinal em ratos, acarretando a ruptura da barreira de permeabilidade intestinal causando a absorção de macromoléculas intactas, e seu potencial desenvolvimento de alergia alimentar, era absolutamente inovador, então, em qualquer desenho de modelo eleito que eu me envolvesse produzia um trabalho. No meu retorno ao Brasil trouxe a técnica e a metodologia para a EPM, e, graças a bolsas de pesquisa que foram financiadas pela FAPESP, pude implantar os modelos aprendidos nos EUA, que posteriormente resultaram em várias teses de Mestrado e Doutorado, de orientandos meus, bem como novas inúmeras publicações em periódicos nacionais e internacionais. Quando voltei dos EUA, em 1979, a partir de um dos trabalhos que lá havia realizado transformei-o em tese de Doutorado, que foi apresentada no programa de pós-graduação da Disciplina de Gastroenterologia do Departamento de Clínica Médica da EPM. Em resumo, passei a ter um Mestrado em Gastroenterologia, um Doutoramento em Pediatria e um Doutorado em Gastroenterologia. Dos meus 4 filhos, o mais velho é médico da universidade, hoje é diretor–administrativo do hospital São Paulo, se envolveu com a parte de administração hospitalar. A filha do meio é professora de inglês e atriz, a terceira é administradora de empresas, mora em Belo Horizonte, é diretora de uma mineradora canadense, antes trabalhava num banco. Tenho também uma filha do meu segundo casamento com a Fábia, Walkyria, ela tem 17 anos, está no terceiro ano do colegial, quer seguir medicina, é uma tradição dinástica.
A minha participação na administração, na estrutura burocrática da instituição, foi, na verdade, uma coincidência, não foi nada previamente deliberado, foram situações que se apresentaram e tudo foi transcorrendo naturalmente. Como sempre tive grande envolvimento com as questões da estrutura universitária, galguei vários degraus dentro da EPM. Em paralelo à atividade de ensino e pesquisa, política e institucional, fui chefe dos residentes da Pediatria, posteriormente fui eleito presidente da Comissão de Residência Médica da EPM, fui diretor da Associação dos Docentes (ADUNIFESP), em seguida Presidente da mesma, depois fui chefe da Disciplina de Gastroenterologia e a seguir do Departamento de Pediatria, fui Coordenador da pós–graduação em Pediatria, e membro nato no Conselho Universitário, desde 1988, quando me tornei Professor Titular, aos 44 anos, por concurso, com nota 10,0. Anteriormente, em 1982, aos 38 anos havia prestado o concurso para Professor Titular de Pediatria, fui vencido por outro colega Professor Calil Kairalla Farhat, por centésimos de nota, ele obteve 9,92 e eu 9,88. Este desfecho, longe de me desanimar, serviu de estímulo para seguir adiante em busca do meu objetivo maior, alcançar o posto mais alto da hierarquia acadêmica.
Durante muito tempo pensava quem poderia ser o próximo Reitor, nunca havia me passado pela cabeça esta ideia, pois sempre via algum docente sênior com esta possibilidade. A ideia da reitoria ocorreu quando a partir de um certo momento eu já não conseguia distinguir com nitidez quem poderia ser o potencial candidato a substituir o reitor Hélio Egydio. Uma certa tarde, como eu precisasse falar com o reitor Hélio a respeito de algum tema ligado à UNIFESP, liguei para ele e fui lá conversar. No meio da nossa conversa surgiu espontaneamente o assunto da sucessão, até aquele momento ainda não havia a possibilidade da reeleição, perguntei quem ele pensava para a sua sucessão. Ele, para minha surpresa, falou no meu nome, juntamente com o de outras cinco pessoas.
Isso aconteceu em fins de 1997. Eu perguntei para o reitor Hélio o que ele achava de positivo e negativo nesses potenciais candidatos, ele disse que para mim faltava o apoio do Departamento de Pediatria, ou seja, ser chefe do Departamento. Nunca tinha sido chefe do Departamento de Pediatria, só da minha Disciplina, mas já que era aquilo que faltava, fui em busca disso, para poder ser um potencial candidato a Reitor. Em uma tentativa anterior havia perdido a eleição no Departamento por um voto, mas na segunda, três anos depois ganhei por unanimidade, e três anos depois fui reeleito, também por unanimidade. Entretanto, quando chegou a época da eleição para Reitor, surgiu o advento da reeleição, e o reitor Hélio naturalmente se candidatou, mas me convidou para ser seu vice. Aceitei este honroso convite, não houve qualquer objeção por parte da comunidade acadêmica, nem tampouco surgiu outro candidato, assim fui eleito para o quatriênio 1999-2003. Ao término deste período candidatei-me para Reitor da UNIFESP para o mandato 2003-2007, fui eleito com mais de 80% dos votos na comunidade e no CONSU.
Na minha vida, a convivência entre docência, pesquisa e administração foi intensa, sempre pendia entre um ou dois dos três. Num primeiro momento a questão da administração era muito leve, pouca, a atividade entre docência e pesquisa eram intensas. A partir do momento que fui para a chefia do Departamento de Pediatria, a minha atividade de docência diminuiu bastante, a de pesquisa sofreu um abalo. Entretanto, quando fui para a Vice-reitoria deu para manter a atividade de pesquisa, porque o trabalho de vice é tranquilo, só é chamado na ausência do reitor. Durante o período que implantamos a pós-graduação na Pediatria, tive uma atividade grande de pesquisa por muitos anos, fui o orientador com a maior produção científica em Pediatria do país durante vários anos seguidos. Agora com a reitoria ela diminuiu, mas ainda mantenho atividade de pesquisa, principalmente com aquilo que construímos na Gastropediatria. Foi um processo de construção, progressivamente as pessoas passaram a ter independência para irem crescendo e se desenvolvendo, de tal forma que agora sou mentor dos trabalhos de pesquisa, oriento sobre o projeto de pesquisa em si, depois de realizado, escrito, também reviso e recomendo modificações, tenho uma atividade de pesquisador sênior, infelizmente não dá mais para estar na bancada como fazia em passado recente. Aliás, devo salientar que minha grande produção científica teve o reconhecimento nacional, porque em 2002, recebi a honraria da comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico, na categoria de Grão-Mestre, na Classe de Comendador da Ordem, cuja condecoração me foi entregue pessoalmente pelo Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto (Figuras 43-44-45).
Recentemente, em outubro, fui agraciado com nova honraria, a Ordem do Mérito Aeronáutico, no Grau de Grande Oficial, a mais elevada categoria, por haver prestado assinalados serviços à Aeronáutica Brasileira, outorgado pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (Figuras 46-47).
Acredito que deixei uma marca na pesquisa, primeiro construí uma equipe, pessoas que se engajaram profundamente na constituição de uma Disciplina que hoje é a maior produção científica do país na área, a Gastroenterologia Pediátrica, a liderança que nós ocupamos por essa atividade, o reconhecimento da academia e dos pares em nível nacional e internacional. Como consequência dessa liderança nacional e internacional, fui eleito presidente do Congresso Mundial de Gastroenterologia Pediátrica que será realizado ano que vem (agosto de 2008), em Foz do Iguaçu, uma grande conquista. Quebramos tabus internacionais, isso só foi possível às custas de um trabalho de base sólido, de reconhecimento científico. Do ponto de vista da pesquisa em si, nós nos envolvemos numa linha de investigação que permitiu uma série significativa de produção de conhecimentos para o mundo, porque ocorreu conosco algo muito interessante, em especial na Gastroenterologia. Nos países onde existem os problemas básicos que são diarreia, desnutrição, miséria, geralmente não há alta tecnologia, enquanto nos países que têm alta tecnologia o problema praticamente não existe. Por outro lado, nós temos um pouco de cada coisa, nós não temos a tecnologia de última geração, mas temos uma boa tecnologia, e, ao mesmo tempo, também temos a pobreza, então, nós pudemos associar o conhecimento ao problema. Nós tivemos a oportunidade de descrever uma série de condições clínicas que até então eram desconhecidas na área médica que estão relatadas no livro que eu escrevi, em 1996, intitulado “Enteropatia Ambiental, uma consequência do fracasso das políticas sociais e de saúde pública”.
Trata-se de uma entidade clínica existente devido aos problemas decorrentes da falta de saneamento básico, com consequências extremamente nefastas do meio ambiente sobre o trato digestivo, consequentemente sobre o indivíduo, seu estado nutricional, em suma, a contaminação ambiental e todas as suas peculiaridades indesejáveis. Esse livro é constituído por uma compilação de teses minhas e aquelas que orientei, em que estudo o ser humano, desde a favela, num macro–ambiente, até o microambiente intestinal, que é a bacteriologia, a ultraestrutura do intestino delgado, a partir da microscopia eletrônica, mostrando todo um caminho até chegar ao final de um ciclo vicioso, desde um ponto de vista social e médico, na área da saúde.
O interesse pelo aspecto administrativo surgiu um pouco como consequência da minha ida aos EUA, porque lá tive a oportunidade de travar conhecimento e entender como funcionava a estrutura hospitalar, a questão profissional, diferentemente do que ocorria na Escola, onde nós sempre tivemos uma visão amadorística da estrutura administrativa e funcional universitária. Quando voltei dos EUA, passei a ter essa visão, ser um Professor Universitário é a minha real profissão, por isso decidi batalhar por ela, esta não é uma atividade secundária nem de valor menor, ao contrário, é uma atividade altamente relevante para a ciência, pesquisa, ensino, extensão, em suma para a soberania do país. Aprendi que se este não for o foco central da atuação do Professor Universitário, a universidade vai ser de alguma forma depreciada, não terá a valorização que merece. Isso ficou muito claro para mim lá nos EUA, no hospital onde trabalhei, porque para o meu chefe Fima Lifshitz, aquilo era a vida dele, ele era professor, pesquisador e trabalhava exclusivamente naquele hospital, isso era sua atividade integral. Aprendi como eram as relações de trabalho entre as pessoas, a administração, isso me interessou muito, mudou totalmente minha forma de ver as coisas, nós tínhamos que batalhar para que a nossa profissão fosse devidamente valorizada.
Depois, em meados dos anos 80 surgiu uma oportunidade de extensão, fui trabalhar no Hospital Humberto Primo, que passou a ser um modelo híbrido, um hospital de atenção pública, mas sem deixar de ser privado, tornou-se uma organização público-privada sem fins lucrativos. Na verdade, constituiu-se no embrião do modelo que hoje orienta as Organizações Sociais. Fui liberado pela universidade para fazer parte desse projeto, fui administrar o Departamento de Pediatria, tinha que apresentar resultados, fizemos muitos exercícios de planejamento estratégico, aprendi muito com essa experiência. Quando terminou o projeto piloto no Hospital Humberto Primo voltei para a Escola com uma série de ensinamentos, uma visão aberta para novas perspectivas, todas elas voltadas para a medicina, atividades de saúde e administração hospitalar.
Todas as conquistas obtidas pela EPM ao longo destes 74 anos, que são incontáveis, são referências para nós, porque na hora que algum membro da EPM ler a história da instituição, a pessoa se identifica com ela. Ela passa a ter uma dívida de gratidão e um compromisso histórico com os fundadores, porque foram indivíduos que poderiam estar confortavelmente instalados em seus consultórios, ganhando dinheiro atendendo seus pacientes privados, mas ao contrário, decidiram abraçar uma causa heroica. Nesta época existia apenas uma Faculdade de Medicina no Estado de São Paulo, a vida deles estava garantida, praticamente não havia concorrência, mas eles remaram contra a maré, lutaram para construir e solidificar a EPM, sem tirar nenhum proveito pecuniário com esta empreitada.
Também acho que nada do que foi feito poderia acontecer em outra instituição, tinha que ser na EPM. Justamente porque nós nascemos da luta, como o imigrante, que teve que sobreviver a todas as adversidades do mundo desconhecido, sabendo que não tinha caminho de volta, então, ele só podia ter uma perspectiva, a sobrevivência, e, pela sobrevivência ele tinha que fazer o possível e o impossível. Tiramos leite de pedra, essa sempre foi a história da instituição, de superação de obstáculos. Por esta razão, entre muitas outras, estamos impregnados pelos nossos antecessores, temos um compromisso de vida com eles, porque o indivíduo que foi professor da EPM na época da sua fundação, em 1933, pagava mensalidade. O professor pagava mensalidade para ensinar, isso precisa sempre ser repetido aos quatro cantos do mundo, para que a instituição seja ainda mais respeitada, é o que procuro fazer desde minha vida de aluno até o presente momento como docente. A EPM é a minha vida, posso dizer isso tranquilamente. Devo tudo a duas coisas: ao futebol e a Medicina. Ao futebol, que me deu todas as alegrias, paixão, a honra e a glória de vestir a camisa da nossa Atlética, e a Medicina, que me deu o sucesso profissional, o prazer de ser útil ao próximo, os conhecimentos, as viagens, a produção científica, o reconhecimento dos meus pares.
Para o futuro, espero que os nossos sucessores nunca se esqueçam das origens, que eles sempre tenham em mente que a EPM foi a semente que possibilitou o nascimento e a expansão da UNIFESP. Desejo que a EPM seja sempre reverenciada e referenciada como a precursora de tudo aquilo que essa Universidade é e vai ser em breve futuro, tenho absoluta certeza disso, a UNIFESP ainda crescerá muito, muito…
A UNIFESP para todos – Anteprojeto de Gestão Universitária 2003-2007
Nós nos preparamos muito para a administração da UNIFESP, tudo foi elaborado com bastante antecedência, pois quando me tornei candidato, logo de início saí em busca de orientação externa. Por coincidência um dos primeiros conselheiros a se incorporar ao nosso grupo, era um amigo de longa data dos meus pais, o arquiteto João Carlos Bross. Eu o havia encontrado durante a realização de um evento sobre arquitetura hospitalar organizado, pela arquiteta Lucina Diniz Guttilla diretora do Departamento de Engenharia da UNIFESP, no qual ele estava participando, proferindo palestras. Eu não o via há muito tempo, ainda era adolescente quando do nosso último contato. Nesta ocasião, durante o evento, começamos a conversar, e, ele se entusiasmou muito com a história da minha candidatura à Reitoria, do projeto que pensávamos desenvolver. Passamos a ter reuniões frequentes, ele me dava livros de experiência de vida profissional para ler, eu os lia e depois discutíamos o conteúdo. Paralelamente a esta consultoria comecei a criar grupos de trabalho, inicialmente éramos apenas quatro pessoas, mas pouco a pouco mais gente foi sendo incorporada ao grupo inicial, até que chegamos a nos constituir em um verdadeiro batalhão de colaboradores interessados em oferecer seus melhores esforços e conhecimentos para a grandeza da nossa UNIFESP. O grupo, que inicialmente era de apenas quatro pessoas, foi progressivamente se ampliando para doze, depois para mais, até chegarmos a 160 pessoas, quando realizamos durante todo um fim de semana, em um hotel em Embu das Artes, uma grande oficina de trabalho, cujo resultado deu origem ao documento Anteprojeto de Gestão, que serviu de base para a minha administração. Vale enfatizar, que ainda que de forma incipiente, ali já estava abordada a questão da expansão da UNIFESP. Durante a elaboração do anteprojeto de gestão nós tivemos discussões sobre a abertura de novos cursos. Entretanto, o fulcro da discussão era se continuaríamos a ser uma universidade no campo da saúde ou se criaríamos cursos em diversas áreas do conhecimento. Em um primeiro momento não se chegou a uma conclusão definitiva, mas esse embrião foi discutido, havia alguns que defendiam a criação de uma verdadeira universidade, a universalização dos conhecimentos, e, por outro lado, havia outros que diziam que deveríamos continuar apenas na área da saúde. Agora, a ideia da ampliação sempre existiu, desde o começo, mas no início não levamos muito a fundo essa questão, porque nós teríamos que convencer o MEC a ampliar nosso quadro de pessoal, para que outras faculdades pudessem ser criadas, e esta decisão fugiria ao nosso alcance.
A seguir estão expostas as diretrizes básicas que foram propostas e aprovadas pelo grupo de trabalho, e que nortearam minha gestão:
- O caráter de instituição pública, autônoma, que gera conhecimento, ensina e presta assistência à rede pública de saúde e sempre foi e deverá ser mantido.
- Uma instituição só alcança um patamar desejável de gestão funcional se houver uma constante aprendizagem por parte de seus componentes.
- Um estado forte é o que apresenta instituições públicas fortes na defesa da cidadania.
- A produção do conhecimento no seio da universidade pública, autônoma, cujo fim não é o lucro, mas sim a criação de ciência, visa diminuir o sofrimento humano, objetivando o desenvolvimento do pais e das condições de vida de sua população.
- Educação não deve ser vista como custo, mas sim como investimento da mais alta valia.
- A universidade, que é signatária de valores humanísticos perenes, não pode abandonar seus objetivos de longo prazo.
- As universidades constituem-se em uma forma ímpar de organização devido à multiplicidade das suas missões e a ausência de uma única forma de autoridade absoluta.
- É essencial, nesse sentido, que as instituições que anunciam como principais valores o Conhecimento e o Ensino, promovam a formação continuada de seus docentes, o que representa a real valorização do profissional em Educação.
- A universidade deverá estar apta e aberta às constantes mudanças, pronta para incorporar, sobretudo, as novas tecnologias de ensino e formação dos alunos.
- Sem dúvida alguma, a valorização das atividades técnico-administrativas e a preocupação com a qualidade de vida dos funcionários e servidores devem ser prioritárias na condução do processo.
- Este anteprojeto de gestão apresenta uma proposta para inserir a UNIFESP/SPDM em um modelo organizacional cuja área técnico-administrativa alcance parâmetros adequados de profissionalismo.
- A convivência do estudante com a pesquisa da fronteira da ciência e a prática das ciências da saúde é absolutamente indispensável.
- O conceito da Universidade implica na geração de conhecimento, para o qual a pesquisa é o foco. Desta forma, entende-se que a Universidade será mais profícua quanto maior for o número de professores por aluno, o que revela suas atividades de pesquisa.
- Alcançar a sociedade é uma prática comum da UNIFESP, facilitada pelo desenvolvimento articulado de pesquisa básica e clínica, integrado à assistência à saúde.
- O gerenciamento de pesquisa é a condição essencial para que pesquisadores se relacionem com o ambiente externo à universidade.
- A questão da capacidade do sistema público em atender à população no nível da educação superior passa diretamente pela valorização do profissional docente-pesquisador.
- A construção de um instrumental capaz de mensurar e valorar as atividades docentes e sua produtividade científica de modo integrado é uma das funções primordiais da instituição.
- Esse tipo de atividade consubstancia a autonomia institucional. O crescimento do escopo de uma ação, efeito natural dos retornos positivos aos quais conduz, leve ao aumento da eficiência acadêmica.
- A educação continuada deve ser vista como o mais promissor e eficiente instrumento de manutenção do funcionário na instituição, seguida de perto pela aderência entre um gerenciamento da produção e instrumentos reais de motivação para o trabalho.
- Uma estrutura de acesso às informações é essencial, tanto para a implementação dos planos de gestão das atividades acadêmicas, quanto para a produção de conhecimento.
- Respeitar diferentes visões de mundo é o foco da liberdade acadêmica, e, ao mesmo tempo, é o que lhe permite ser autônoma.
- Há que se pensar até que ponto a expansão dos serviços de assistência deve ser levada, e qual seria seu papel para a UNIFESP.
- As atividades gerenciais dos hospitais devem ser profissionalizadas, viabilizando o apoio para a melhoria das responsabilidades funcionais na esfera organizacional.
- A implementação de um projeto de gestão deve objetivar, antes de tudo, que o processo seja gerado dentro da instituição, levando à maior integração de objetivos institucionais.
- A aprendizagem institucional para a gestão pode ser alcançada por dois caminhos: o primeiro envolve capacitação formal dos atores; o segundo é o resultado da implementação de um processo de Avaliação Institucional Integrada.
- Avaliação Institucional Integrada deve ser vista como instrumento de tomada de consciência, que revela o que somos para nós mesmos.
- Podemos estabelecer que os instrumentos de avaliação devem ser, de fato, instrumentos de valorização.
- A avaliação deve estar a serviço da reforma e construção do compromisso com a democracia, e não se revelar como instrumento de centralização, da homogeneização e do controle.
- A abordagem de gerenciamento de projetos necessita de uma amplitude profissional.
Discurso de Posse – agosto de 2003
Minhas primeiras palavras são destinadas a expressar toda a alegria, a felicidade e a honra por ter sido conduzido ao posto de Reitor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Este é sem qualquer sombra de dúvidas o momento de maior emoção por mim vivenciado, ao longo destes 38 anos apaixonadamente dedicados inicialmente à Escola Paulista de Medicina (EPM) e desde 1994 à UNIFESP, por ter sido alçado ao mais elevado posto da minha carreira profissional. Por outro lado, tenho também a mais plena consciência de que aliada ao júbilo deste momento associa-se uma grande carga de responsabilidades e expectativas que naturalmente esta posição encerra.
Desejo, acima de tudo, deixar aqui consignados meus mais sinceros e efusivos agradecimentos a toda a comunidade que me contemplou com 85% dos votos e aos membros do CONSU que ao me dedicarem 93% dos votos, ratificaram esta confiança em mim depositada para dirigir os destinos da nossa instituição nestes próximos 4 anos. Como é perfeitamente compreensível que para se chegar ao fim desta longa jornada, com o êxito alcançado, foi necessária a colaboração de um sem-número de pessoas, seria justo e esperado que eu fizesse os agradecimentos de praxe. Entretanto, para não cometer erros imperdoáveis de omissão de nomes, decidi eleger conjuntos de pessoas e/ou categorias profissionais, e uma respectiva figura humana representando-as, para render minhas homenagens a todas e a todos, indistintamente.
Inicialmente minhas reverências são dedicadas à mulher, ou melhor, a todas as mulheres que tiveram e que tem influência direta na minha vida pessoal e profissional. E, neste sentido, permito-me escolher minha mãe, síntese de tudo de bom e maravilhoso que se pode esperar de um ser humano. Nascida Walkyria da Cunha Lobo, ao se casar com meu pai tornou-se Walkyria Lobo Fagundes, esta mulher que me gestou, me trouxe ao mundo e me orientou pela vida afora com seus exemplos vivos de dignidade, decência e dedicação plena em tudo aquilo que faz, simboliza, neste momento, minha homenagem às mulheres. Grande amiga, cúmplice e companheira de todas as horas, ensinou-me a ter garra e de terminação para nunca desistir de tentar alcançar um determinado objetivo, perseverança e ousadia para ir sempre mais além do que o aparentemente possível, que exigir é fundamental, mas que perdoar é nobre, a entender que nas derrotas aprendemos a construir as vitórias futuras, e o mais importante de tudo, que amar é essencial e que o afeto é indispensável para o ser humano. Walkyria sempre foi uma mulher muito além do seu tempo, profissional exemplar, trabalhou com dedicação integral servindo ao estado durante 30 anos, e esportista nata, foi uma tenista de excepcional talento, campeoníssima em sua juventude, derrubou tabus, numa época em que à mulher não era bem vista nem a atividade profissional, como tampouco a prática esportiva, venceu com galhardia a todos os preconceitos que se lhe antepuseram, e mesmo nos dias atuais, já octogenária mas ainda muito jovial, continua no mais pleno exercício de suas faculdades mentais e físicas, inclusive aceitando novos desafios em sua faixa etária. Seu ombro acolhedor fez-se sempre sentir em todos os momentos da minha existência, fossem eles de dor, sofrimento e dificuldades, assim como também comigo compartilhou as inúmeras e mais variadas alegrias incontidas. Obrigado minha mãe por ter me posto no mundo e por ter me apontado os melhores caminhos para que eu pudesse trilhá-los com sucesso (Figura 54).
Aos meus colegas docentes meu agradecimento tem como símbolo meu mestre maior, aquele que acreditou em mim quando ainda médico residente desta instituição. Ajudou-me com total convicção, para que eu me tornasse, na ocasião, o primeiro residente a realizar a especialização em outro país. Assim pude em 1973, durante todo o terceiro ano da residência, fazer meu treinamento em Gastroenterologia Pediátrica, em Buenos Aires com o pioneiro desta especialidade na América latina, Horácio Toccalino. Minhas homenagens se dirigem ao Professor Azarias Andrade de Carvalho, que me adotou como se seu filho fosse desde meu retorno e ao longo de toda minha carreira teve sempre palavras de estímulo e apoio irrestritos. Mantenho ainda hoje nitidamente muito vivo na lembrança o dia que recebi sua visita no hospital que trabalhava na Argentina; a alegria e a emoção de vê-lo chegando me encheram de um orgulho enorme, pois receber a visita do mestre em terras estrangeiras representavam uma honra e uma distinção da mais alta valia. O mesmo também ocorreu quando da minha ida para os Estados Unidos, agora já como docente, Azarias também se fez presente para dar o apoio e o conforto moral para mais uma aventura no exterior. E esta foi a tônica do nosso relacionamento, e vale dizer que isto não foi um privilégio apenas meu. Azarias representa para toda a classe pediátrica a união, o anseio por querer nada menos que o melhor para nossas crianças, a figura do humanista sem concessões de qualquer natureza, o sábio conselheiro, enfim o mestre que todos gostaríamos de ter e ser. Obrigado meu mestre por ter-nos dado sempre o exemplo da retidão de conduta e a sensibilidade de amar a criança de forma absoluta e integral, sem distinção de raça, credo ou origem socioeconômica.
Aos meus companheiros servidores e funcionários técnico-administrativos vai aqui minha gratidão pela extraordinária dedicação à nossa instituição e à sociedade, e que mesmo sem receberem o devido e justo reconhecimento salarial por parte dos nossos governantes, aliás constatação que também é válida para nós docentes, continuam sem esmorecer a oferecer o melhor de si em prol da nação, na expectativa de um amanhã mais promissor. Como reconhecimento e respeito pelo trabalho por vocês realizado gostaria de saudá-los na pessoa do sr. Jonas Santana da Silva, técnico em gesso do HSP e técnico de laboratório da UNIFESP, a quem posteriormente terei o prazer de outorgar a medalha da nossa universidade, como gratidão pelos inestimáveis serviços prestados ao próximo, sempre com dedicação extrema. Jonas foi a pessoa que me cuidou, com todo carinho, das incontáveis lesões por mim sofridas, durante os anos de acadêmico, como esportista defendendo a nossa gloriosa Atlética, muitas vezes fazendo verdadeiros milagres para que eu pudesse estar em condições de participar de mais uma árdua batalha. Certa vez, quando já cursava o quinto ano de Medicina, num fim de semana jogando futebol por um outro clube contra a seleção Brasileira que ia disputar as Macabíadas, sofri, num choque com o goleiro adversário, uma dupla luxação esterno-clavicular, o que me causava dor intensa mal podia respirar, e que praticamente me impossibilitava movimentar o tronco e os braços. Mas vivíamos a semana decisiva da Pauli-Med e tínhamos um jogo de futebol cujo resultado seria vital para nossa vitória na competição. Eu era o capitão do time, exercia uma liderança importante no grupo, precisava entrar em campo de qualquer forma, e além do mais havia um outro fator de complicação pois o jogo seria realizado no campo do inimigo, lá na Atlética deles. Corri desesperado ao Jonas praticamente exigindo que ele resolvesse meu problema. Jonas com seu olhar paciente, quase de deboche, me disse: “vou lhe fazer um colete de gesso do pescoço à cintura e se você conseguir se equilibrar vai poder jogar”. Dito e feito, o colete foi providenciado e em mim colocado, fiquei completamente enrijecido, mas pelo menos me vi livre da dor que tanto me incomodava. Apresentei-me para jogar e ninguém podia acreditar que eu teria condições para tal, mas como era veterano e capitão do time o poder da influência falou mais alto e desta forma entrei em campo. Digo entrei em campo, pois isto foi literalmente o que ocorreu, não conseguia me movimentar e tampouco me equilibrar com aquela verdadeira armadura medieval, mas assim permaneci por todo o tempo, até que no fim do jogo que se mantinha num irritante zero a zero, houve uma falta a nosso favor próximo da área do adversário. Com a prepotência de todo bom veterano decidi que bateria a falta, não havia naquele momento a mais mínima possibilidade de me impedirem que isto ocorresse, porque naquela época havia hierarquia e esta era rigidamente respeitada. Bem, assim sucedeu, bati a falta e fiz o gol, ganhamos o jogo e mais uma Pauli-Med, a quarta consecutiva, e tudo por obra e graça da armadura que o Jonas inventou de me colocar. Obrigado amigo Jonas, você é sempre um personagem inseparável das memórias da nossa geração de acadêmicos.
Ao corpo discente também gostaria de deixar aqui consignados meus mais sinceros agradecimentos pela intensa participação em todo o processo eleitoral, trazendo o entusiasmo e a visão crítica essenciais para o engrandecimento das instituições democráticas, além de deixar transparente o desejo e a ânsia de que querem ver um mundo melhor para si e para toda a sociedade dentro em breve. Vocês têm pressa, a fome dos aflitos, isso é altamente salutar e desejável, posto que representam o amanhã e o dia já está raiando. Vocês são também nosso bem maior, por esta razão em seus ombros está depositada toda a expectativa de um porvir melhor, o futuro será mais alvissareiro que o presente, vocês incorporam a figura dos agentes de transformação da sociedade. E como estou me referindo ao futuro, peço permissão aos nossos alunos para homenageá-los na pessoa do meu neto, Pedro Brecheret Fagundes, filho de Ana Paula Brecheret, médica nefrologista pediátrica, graduada nesta instituição e Ulysses Fagundes, médico servidor da UNIFESP e mestre em Pediatria. Eu pedi para que ele viesse vestido com o uniforme da seleção brasileira de futebol, porque este é o símbolo que melhor representa nosso país em qualquer lugar do mundo, é por esta aptidão extraordinária do nosso povo que somos universalmente idolatrados e reverenciados como artistas da bola. Mas como estou falando do amanhã, espero ardentemente que as próximas gerações, a dos nossos estudantes atuais, assim como a do Pedro, tornem nossa terra reconhecida internacionalmente mais do que apenas como a pátria das chuteiras e do carnaval. Desejo que vocês, com o arroubo da juventude, utilizem esta nossa fantástica capacidade de tolerância e miscigenação racial transformando-a numa energia positiva que possibilite gerar um país com igualdade de oportunidades, justa distribuição de renda, sem iniquidades sociais, desprovido de violência, com preservação da nossa maravilhosa natureza e a devida proteção aos habitantes das florestas, aonde se exerça a verdadeira cidadania, enfim uma nação que sirva de exemplo não somente na habilidade da prática do futebol mas acima de tudo na arte do convívio solidário e do bem estar social.
Por último, mas não menos importante, meus agradecimentos são dirigidos aos meus amigos, os companheiros de todas as horas, aqueles que apresentam a mão estendida, com total despojamento d’alma, nos momentos mais críticos e difíceis das nossas vidas, que nos fazem ver uma luz de alento e nos mostram um caminho alternativo quando tudo parecem trevas. Estes sentimentos desejo expressar na pessoa do meu grande e fraterno amigo Hélio Egydio Nogueira. Diz o poeta: “amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves dentro do coração, assim falava a canção, amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam não, mesmo esquecendo a canção, o que importa é ouvir a voz que vem do coração, pois seja o que vier, venha o que vier, qualquer dia amigo eu volto a te encontrar…”. Agora digo eu pela voz do meu coração e seguramente pela voz de todos os corações da família UNIFESP, receba nosso preito de eterna gratidão por aquilo que você fez e com certeza continuará a fazer de bem, para todos os que te rodeiam. Obrigado amigo Hélio, pela confiança em mim depositada, pelo apoio incondicional ao longo destes quatro anos de íntima e fraterna convivência, pelo carinho demonstrado com toda minha família, principalmente por me estender a mão e me dar o consolo confortador quando tudo parecia irremediável. Enfim, obrigado também por ter, entre tantos outros valorosos colegas que poderiam ter sido escolhidos, apostado na minha pessoa para sucedê-lo.
A universidade, desde sua longínqua fundação, como instituição medieval que precede a existência do estado-nação, é europeia por excelência e consubstancia seus valores. Em mais de novecentos anos de vida, desde a fundação da Universidade de Bolonha em 1088, a mais antiga do mundo, a obra universitária constitui o patrimônio mais valioso da humanidade, envolvendo ensino e investigação. Galileu Galilei foi professor em Bolonha e Copérnico desenvolveu suas teorias na Universidade de Salamanca, fundada em 1218. A emergência da economia enquanto disciplina dá-se pela contribuição de filósofos como Adam Smith. Karl Marx era um tecnólogo e estava interessado nas formas pelas quais a humanidade produz e acumula valor: por isto a transição feudalismo-capitalismo era seu tema. Pasteur era químico, e tentava compreender, a princípio, os problemas com a produção de vinho na França. A busca pela compreensão do processo de fermentação o levou a desmontar a teoria da geração espontânea e a entender os princípios da antissepsia. Bem, meus caros amigos, como se percebe por esta brevíssima resenha seriam necessárias muitas e muitas páginas para apenas listar grandes nomes da produção científica e cultural da humanidade, ligados à universidade. Esta tradicionalíssima instituição continua a crescer e a prosperar, muito embora, no decorrer destes nove séculos tivesse vivenciado inúmeras mudanças estruturais para torná-la adaptada às necessidades vigentes das sociedades nos mais diferentes momentos. As universidades dos nossos dias celebram e compartilham suas conquistas com a sociedade como um todo, consideram-se a si mesmas como produtoras do conhecimento utilizável. Duas grandes forças, uma intelectual e outra de natureza política, encontram-se por trás desta transformação dos propósitos e da autoimagem da universidade. A intelectual é decorrente do triunfo das ciências naturais. A ciência explodiu de forma tão esplendorosa no século 20 como em nenhum outro momento da história, suas conquistas têm se mostrado ilimitadas em todas as áreas do saber e facilmente vieram a destronar as ideias de que a universidade deveria apenas cultivar o intelecto. A segunda grande força de transformação da universidade, a política, está diretamente ligada a democracia e a demanda de educação de massa, que na verdade é um dos seus corolários. Portanto, na maior parte do século 20, ciência e democracia foram as principais forças que moldaram a universidade. Mas as grandes transformações não param por aí, novas ideias continuam surgindo a respeito do papel que a universidade deve assumir. Atualmente, já no século 21, acadêmicos e políticos estão tratando de enxergar a universidade não apenas como a criadora de conhecimentos, uma fonte de treinamento de jovens mentes e uma transmissora de cultura. Estão indo além na sua conceituação, visualizam a universidade também como um agente da maior magnitude para o crescimento econômico, a chamada fábrica do conhecimento. A universidade, portanto, constitui-se em uma estrutura ímpar de organização, devido à multiplicidade das suas missões e a ausência de uma única forma de autoridade absoluta. A preservação da diversidade e da autonomia são dois fatores básicos que se projetam para a construção da Universidade do Futuro. O fortalecimento desses aspectos é a garantia de nossa sobrevivência e crescimento. Para que isso ocorra é necessário que o docente seja valorizado, e aqui vale lembrar que a formação de docentes universitários, com a qualidade por nós exigida, é uma longa jornada que demanda esforços de toda uma vida. Concomitantemente nossos parceiros essenciais, os servidores de todos os níveis, devem poder pensar na sua trajetória institucional também em longo prazo a partir de um plano de carreira devidamente definido, bem como a preocupação com sua qualidade de vida deve ser prioritariamente valorizada, além de outras ações específicas que resultem em melhoria da autoestima e revertam em ganhos profissionais reais. Uma vez preenchidos estes requisitos principais, será possível garantir que os estudantes recebam o melhor da instituição. No mundo moderno o foco deve estar no aluno, e não mais no curso e isso deve significar maior flexibilização e diversificação da formação acadêmica. Uma formação de largo espectro disciplinar é o objetivo a ser alcançado e os programas de iniciação científica devem ser vistos como os núcleos geradores dos futuros recursos humanos da universidade.
A educação é a base e o estofo de uma sociedade que busca a igualdade de oportunidades para seus cidadãos. A educação é a garantia para que o conceito de cidadania exista na prática, e não apenas na lei. A educação é uma das obrigações do Estado. Em todo o mundo desenvolvido, o governo é o grande financiador do ensino e da pesquisa, assumindo os deveres de formar mão de obra especializada, e garantir a qualidade dos seus recursos humanos no campo da competitividade econômica. Educação não pode ser vista como custo, mas sim como investimento da mais alta valia. Mas a educação superior é privilégio de uma minoria, mesmo nos países desenvolvidos. Justamente por isso, em países em desenvolvimento, as instituições de ensino, pesquisa e extensão exercem um papel fundamental para a transformação da realidade do país e para seu desenvolvimento. A capacitação de recursos humanos visa formar lideranças profissionais e intelectuais, essenciais para a definição dos destinos de uma nação. Na universidade apreendem-se conteúdos, aprende-se a respeitar o ambiente político-institucional, as hierarquias e o valor das responsabilidades acadêmicas. Deixo aqui, portanto, por todos os motivos anteriormente assinalados, meu mais arraigado compromisso em defesa da universidade pública, gratuita e de excelência, voltada para atender as necessidades da sociedade que a financia.
A UNIFESP tem feito história na produção do conhecimento e nas relações com a comunidade na qual está inserida. Desenvolve e difunde ciência, forma recursos humanos para as áreas da saúde em nível de excelência e atua como instituição de incomparável importância tanto na promoção quanto na proteção da saúde. Mas para chegar a este estágio atual de elevado prestígio nacional e internacional, muito esforço foi dispendido por inúmeras gerações que nos antecederam, verdadeiros heróis, seres humanos iluminados e visionários que acreditaram fosse possível tornar realidade um sonho tão risonho. A UNIFESP foi criada em 15 de dezembro de 1994, como resultado da transformação da EPM que foi fundada em 1933. A EPM quando da sua criação não possuía de seu um único metro quadrado de terreno, mas foi grande o ideal, persistente e determinado, dos fundadores. Passados 70 anos, o campus do complexo UNIFESP/SPDM, ocupa uma área de aproximadamente 150.000 metros quadrados distribuídos em 38 quadras, possuindo em torno de 250 imóveis próprios e/ou alugados. Nossa universidade ministra 5 cursos de graduação para 1296 alunos, oferece 37 programas de residência médica envolvendo 455 médicos e 39 enfermeiras na residência de enfermagem. Na área da pós-graduação, sentido amplo, a UNIFESP oferece 142 cursos de especialização tendo 1686 alunos matriculados, enquanto na pós-graduação, sentido estrito, mestrado e doutorado, desenvolve 39 programas para um total de 1974 alunos originários dos mais diversos locais do país e inclusive do exterior. Neste segmento contamos com 493 professores orientadores, os quais compõem 127 grupos de pesquisa cadastrados junto ao CNPq, desenvolvendo 387 linhas de pesquisa. No campo da extensão, o complexo UNIFESP/SPDM encontra-se profundamente inserido no sistema público de saúde, e é nosso desejo não somente manter esta inserção, mas também liderar definitivamente esta ação em benefício da sociedade. Entendemos que desta forma proporcionaremos, entre outros aspectos benéficos, postos de trabalho para um contingente considerável de profissionais da saúde que gravitam em torno da nossa instituição e ao mesmo tempo propiciaremos que a excelência da qualidade destes profissionais seja oferecida àqueles que buscam assistência no Sistema Único de Saúde. Além do Hospital São Paulo nossa instituição administra 5 outros hospitais localizados em diferentes pontos do município de São Paulo, e mesmo em outros municípios do Estado, Centros de Saúde e de Reabilitação Física, assim como mantém convênios com várias outras instituições de saúde no Brasil e no exterior. Como se vê tivemos um crescimento verdadeiramente exponencial ao longo dos tempos, mais intensamente nesta última década, quando nos tornamos uma universidade da saúde. É, portanto, chegado o momento de repensar nossos destinos e consolidar os ganhos conquistados. Parafraseando Augusto Comte, teórico do Positivismo, inspirador da frase “Ordem e Progresso” da bandeira brasileira, eu entendo que estes dizeres deveriam ser invertidos. Progresso que é desordem criativa vem primeiro, assim como tem sido na UNIFESP e agora devemos passar a cuidar da Ordem. Aliás, neste sentido acaba de ser finalizado, pelo nosso Departamento de Engenharia, após longos meses de estudos e discussões, um ambicioso projeto urbanístico de reestruturação imobiliária do nosso campus, o qual busca dar maior racionalização na ocupação dos espaços, com prioridade às edificações verticais, e que será submetido à apreciação do nosso Conselho Universitário, para que uma vez aprovado tenha seu início imediatamente implementado. Ainda no campo da Ordem sem que nos esqueçamos do Progresso, é de fundamental importância reafirmar pelo menos três grandes valores que se revelam como as verdadeiras vocações dos programas desenvolvidos na UNIFESP: produzir conhecimento, ensinar e fortalecer a instituição pública gratuita e de excelência na qualidade. A partir deles é que vamos pôr ordem no progresso e devemos saber que muito mais progresso virá, estabelecendo um círculo virtuoso para o nosso futuro. Com a participação ativa de toda nossa comunidade, valorizando acima de tudo o ser humano, colocando em plena atividade nossa extraordinária força de trabalho, em uma ação conjunta e solidária, construiremos a Universidade do Futuro e consolidando definitivamente o lema “a UNIFESP para todos” (Figuras 55-56-57-58-59-60-61).
O pontapé inicial do processo de expansão e sua gradual implantação nos diversos campi
“A Escola Paulista de Medicina foi a semente que possibilitou o crescimento e a expansão da universidade…” entrevista dada em dezembro de 2007
Em reunião realizada do CONSU em 29 de outubro de 2003, comentei, à época, que o então Ministro da Educação, Cristovão Buarque, havia comunicado aos reitores das universidades públicas brasileiras sobre um processo de reestruturação que resultaria em uma grande expansão do ensino superior público no Brasil. De fato, em decorrência desse discurso eu convidei o então Secretário da Educação Superior (SESU) Carlos dos Santos, para visitar nosso campus de São Paulo. Ele veio, percorreu os mais diversos laboratórios e centros de pesquisa da nossa instituição, ficou vivamente impressionado com o que viu em sua visita, e decidiu que, apesar do interesse da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a UNIFESP teria prioridade para a viabilização do projeto. Infelizmente, o Ministro Cristovão Buarque deixou o Ministério no fim de 2003, e, por essa razão, o projeto não prosperou.
Na verdade, tudo começou, algum tempo depois, em um despretensioso e singelo café da manhã com o Deputado Federal José Aristodemo Pinotti…Eu havia conhecido Dr. Pinotti na década de 80 por ocasião da implantação havia do projeto público-privado no Hospital Humberto Primo. Naquela época Dr. Pinotti era o Secretário do Estado da Saúde de São Paulo e eu era o representante eleito pela comunidade médica do hospital junto ao Conselho Administrativo. Nossos contatos foram poucos e bastante formais, cumpríamos as tarefas burocráticas da instituição e suas relações com a Secretaria da Saúde, portanto, não tínhamos relações mais profundas de amizade, mas sim amistosas e respeitosas. Entretanto, logo após eu ter assumido a reitoria da UNIFESP recebi um telefonema dele propondo que tomássemos um café da manhã na minha sala, porque ele gostaria de conversar comigo sobre algo que poderia ser de grande interesse para o nosso Hospital São Paulo. Imediatamente aceitei a proposta e acertamos uma determinada data que fosse conveniente a ambos.
Na conversa ele declarou que tinha grande afinidade com a Escola Paulista de Medicina, já tinha sido Secretário da Educação, e quando havia sido Secretário da Saúde, havia recebido grande ajuda do Hospital São Paulo (HSP), que para ele era tão importante quanto o Hospital das Clínicas, mas que ao qual não era dado o devido valor. Ele salientou que apesar dos préstimos do HSP à nossa população era muito pouco conhecido pela bancada Paulista de Deputados Federais. Para nos tornarmos conhecidos ele sugeriu que nós oferecêssemos um jantar para a bancada Paulista de Deputados Federais em Brasília, ele me disse que o Incor fazia isso regularmente, com grande repercussão. Esta recomendação muito me interessou e prontamente saímos atrás de patrocínio financeiro, que foi conseguido junto à Indústria Farmacêutica. Na ocasião o líder da bancada paulista era o Deputado Federal Milton Monte, que foi contactado e mostrou-se totalmente receptivo com a ideia. Foi marcada a data e fomos para Brasília em um pequeno grupo de pessoas, constituído praticamente pelos Pró-Reitores e o Diretor Superintendente do HSP. Ao chegar ao local do jantar, na antessala, a primeira coisa que me aconteceu foi ter sido apresentado a uma deputada, Mariângela Duarte, natural de Santos, que declarou ter uma grande admiração pela Escola Paulista de Medicina, pela UNIFESP, mas que estava lutando pela criação de uma Universidade pública na baixada santista. Naquele momento, de repente, tive um estalo, uma luz, falei para ela que a universidade pública na baixada santista que ela tanto queria poderia muito bem ser uma expansão da UNIFESP. Felizmente, ela achou, de imediato, a ideia maravilhosa, e nos dias seguintes começamos a fazer as gestões para viabilizar o projeto. De fato, foi o que ocorreu, porque na semana seguinte recebi um telefonema do prefeito de Santos, Beto Mansur, dizendo-se altamente interessado neste projeto e que gostaria de ter uma conversa pessoal comigo. Marcamos o encontro na Prefeitura de Santos fui convicto de que iríamos ter sucesso nesta empreitada, ele me recebeu com um grupo de vereadores e a deputada Mariângela. A conversa fluiu muito tranquilamente e ficou decidido que este projeto seria suprapartidário, seria a concretização de uma longa aspiração da cidade em ter uma universidade pública. Ele imediatamente encaminhou o projeto de lei para a Câmara de Vereadores que foi aprovado por unanimidade. Estava, assim, selada a primeira aventura da Expansão da UNIFESP.
Paralelamente às primeiras negociações para a expansão em Santos, houve também o intuito de implantar um campus em Interlagos que contava com a intermediação da Coordenadora de Desenvolvimento da Expansão, professora Lucila Carneiro Vianna, e do pró-reitor de extensão, professor Walter Albertoni, junto ao vereador Carlos Giannazi, com a finalidade de obter um terreno ao lado do Autódromo de Interlagos.
Nessa mesma reunião, em 11 de fevereiro de 2004, foi feito um primeiro comunicado sobre a implantação do Programa de Ações Afirmativas na Universidade. A discussão sobre a implantação desse programa na universidade foi, novamente, abordada em março de 2004, em consideração à Portaria nº 1.369, de 18 de dezembro de 2003, na qual o governo federal solicitava a inclusão dessa discussão na pauta dos conselhos universitários de todas as universidades brasileiras. A coordenadora da Comissão de Estudos Institucionais para Ações Afirmativas da UNIFESP, professora Helena Bonciani Nader, propôs um aumento em 10% nas vagas de graduação existentes. As vagas seriam destinadas aos negros/pardos provenientes de escolas públicas. Essa proposta foi discutida no Conselho de Graduação (CONGRAD) e, posteriormente, redigiu-se uma resolução para aprovação e homologação no CONSU, com a inclusão de índios nas quotas. Com uma ressalva feita pelo reitor, em que condicionava o cumprimento dessa resolução à garantia de financiamento pelo MEC, a proposta foi aprovada em 14 de abril de 2004 com 31 votos a favor, 15 votos contra e 7 abstenções.
Ainda, em 3 de março de 2004, a proposta de criação de dois novos campi (Baixada Santista e Santo Amaro) foi colocada em votação e aprovada, pelo CONSU, com apenas um voto contrário, mas, tivemos que enfrentar algumas resistências dentro da UNIFESP. Felizmente, nossa equipe foi responsável por conquistar corações e mentes, mas, aconteceram resistências de todo tipo, o interessante é que tive resistências dos tradicionalistas da “Escolinha” (esse era o carinhoso apodo dado à EPM, nos seus primórdios), e, a outra, daqueles que nós pensávamos serem progressistas, mas, na realidade mostravam-se conservadores. Eles queriam saber quanto a expansão iria levar de dinheiro da sede, do centro da Vila Clementino. Esses argumentos não tinham sustentabilidade, então, nós fomos discutindo e debatendo, discutindo e debatendo, aos tradicionalistas nós dizíamos que se a EPM não crescesse imediatamente, ela sucumbiria, porque eu havia estudado uma série de coisas do passado, havia me certificado que nós já havíamos sido parte da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), em 1963 e 64, quando deixou de sê-la, por um decreto do presidente da república Castelo Branco, e, durante aqueles anos os diplomas de conclusão de curso foram emitidos pela UFSCAR. A partir da criação da Universidade do ABC, nós sucumbiríamos rapidamente, não tínhamos nenhuma dúvida de que seríamos incorporados pela Universidade do ABC. Então, nossos argumentos tornavam-se imbatíveis, costumávamos perguntar para os tradicionalistas, até quando a EPM seria uma instituição que tem o nome de universidade, mas que na verdade era uma Escola de Medicina e outra de Enfermagem, às quais foram acopladas três Unidades ligadas a Departamentos Acadêmicos? Por outro lado, para os progressistas, perguntávamos por que não poderíamos ousar? Argumentávamos que só poderia ser progressista quem ousa. Com base nesses argumentos conseguimos paulatinamente, porém, com insistência, convencer ambas as partes, tradicionalistas e progressistas.
Na continuidade das tratativas, para implantação do campus na Baixada Santista, o reitor e os diretores administrativos da UNIFESP, da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) e do Hospital São Paulo (HSP) estiveram na cidade de Santos, em abril de 2004, onde assinaram um convênio com a prefeitura municipal de Santos, para criação do referido campus. (UNIFESP, Ata do CONSU de 14 de abril de 2004).
Em reunião realizada no dia 9 de junho, o reitor comunicou aos membros do CONSU, as seguintes deliberações: a aprovação, por unanimidade, pela Câmara Municipal de Santos do convênio de cooperação entre a UNIFESP e a Prefeitura de Santos; a confirmação do Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, referente à implantação do Campus Baixada Santista, em audiência com o então Ministro da Educação, Tarso Genro; sua inserção no futuro Plano de Expansão das Universidades Federais. Foi também informado que as vagas para servidores docentes e técnico-administrativos haviam sido aprovadas pelo MEC e encaminhadas ao Ministério do Planejamento (MP) para estudo. (UNIFESP, Ata do CONSU de 9 de junho de 2004).
Em 14 de setembro de 2004, realizou-se a aula inaugural do Campus Baixada Santista. De acordo com o reitor “a cerimônia emocionou a todos, pois foi um momento especial, representando a expansão da UNIFESP para outro campus”. Esse evento contou com a presença do Prefeito do Município de Santos, Paulo Roberto Mansur, da deputada federal Mariângela Duarte, de vários vereadores e deputados da Baixada Santista. A UNIFESP foi representada pelo reitor Ulysses Fagundes Neto, pelo vice-reitor Sérgio Tufik, pela chefe de gabinete professora Lucila Carneiro Vianna, pelos pró-reitores e por alguns funcionários. (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 15 de setembro de 2004).
Com a inauguração do campus, instalado em imóvel cedido pela Prefeitura Municipal de Santos e localizado à Avenida Ana Costa, 95, tiveram início dois cursos sequenciais que contaram com os recursos humanos e materiais do campus São Paulo, foram eles: Educação em Saúde e Gestão em Saúde. Dois meses depois, o reitor comunicou que, conforme informações do então Secretário da Educação Superior, Nelson Maculan, e do diretor do Departamento de Desenvolvimento do Ensino Superior do MEC, Manuel Palácios, seria realizado um concurso público, no qual seriam oferecidas 2.500 vagas, em 2005, para os servidores docentes e técnico-administrativos. As vagas determinadas para o campus Baixada Santista faziam parte das 500 vagas que seriam destinadas à expansão das universidades. O reitor esclareceu que o concurso seria aberto, especificamente, para o campus, sem a possibilidade do servidor ser itinerante, pois o campus era considerado pelo MEC como uma expansão e não uma extensão da UNIFESP. (Ata do CONSU de 10 de novembro de 2004).
Para o início da adequação da infraestrutura, mediante emenda da deputada federal Mariângela Duarte, foi disponibilizado o valor de R$ 2 milhões para a UNIFESP. (Ata do CONSU de 10 de novembro de 2004).
Com relação à infraestrutura, o reitor comunicara que a reforma completa do imóvel da Av. Ana Costa foi feita pela Prefeitura Municipal de Santos e sua conclusão, realizada até o final de 2005. Outros imóveis, que acabaram por fazer parte da infraestrutura do campus, foram: a Hospedaria dos Imigrantes que possuía 20 mil m2 e pertencia ao Governo do Estado de São Paulo, bem como dois terrenos da Prefeitura do Município de Santos que continham áreas de 5.080,30 m2 e 5.112,00 m2 e estavam localizados entre a Rua Dr. Manoel Tourinho e Rua Silva Jardim e entre a Rua Silva Jardim e Rua Campos Melo, na Vila Mathias, destinados à instalação da sede definitiva do campus, cuja doação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 5 de abril de 2006. (UNIFESP, Ata do CONSU de 13 de julho de 2005) e (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 12 de abril de 2006).
Em 2 de agosto, foi assinada a cessão da antiga sede da Hospedaria dos Imigrantes, situada na Rua Silva Jardim, no município de Santos, para a UNIFESP. Nessa ocasião, o reitor comunicou que, em contato com o Secretário da Educação Superior Manuel Palácios, estava acordada a liberação das primeiras 35 vagas para concurso público de servidor técnico-administrativo, para o campus. Sobre o concurso de servidor docente, o reitor assim se manifestou:
(…) o maior concurso da história da UNIFESP, teve início no dia 8 de agosto – concursos para docentes da Baixada Santista – e que gostaria de destacar a tremenda cooperação e eficiência da Pró-reitora de Administração, da Pró-reitora de Graduação, em especial da Professora Helena Nader. (UNIFESP, Ata da reunião ordinária do Conselho Universitário da Universidade Federal de São Paulo, de 10 de agosto de 2005).
No dia 4 de outubro de 2005, em Brasília, foi assinado o convênio de expansão do Campus Baixada Santista, com os recursos de Outros Custeios e Capital (OCC) específicos para ele. (UNIFESP, Ata do CONSU de 5 de outubro de 2005).
A aula inaugural das atividades de graduação foi ministrada pelo Magnífico Reitor, Ulysses Fagundes Neto, no dia 6 março de 2006. O evento ocorreu no Teatro Municipal Brás Cubas, em Santos e contou com um público de mais de 400 pessoas entre alunos, pais, docentes e funcionários. Estiveram presentes, também, o então Prefeito de Santos, João Carlos Papa, o Ministro Interino da Educação, Jairo Jorge da Silva, o Diretor do Departamento de Política da Educação Superior, Godofredo de Oliveira Neto, e a deputada federal Mariângela Duarte. (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 8 de março de 2006).
Em 2006, o campus iniciou, definitivamente, suas atividades com um total de 190 estudantes, distribuídos da seguinte maneira: 40 estudantes em cada um dos cursos de Fisioterapia, Nutrição, Educação Física e Psicologia e 30, no curso de Terapia Ocupacional.
Em outubro de 2006, o Diretor Acadêmico, Nildo Alves Batista, explanou sobre o projeto pedagógico do campus com os 5 cursos já implantados e destacou a “Educação Interprofissional em Saúde” como um princípio formativo e uma proposta de integração entre os cursos. (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 11 de outubro de 2006).
Em virtude do crescimento das atividades desenvolvidas no campus, fora alugado, em dezembro de 2006, um segundo imóvel, situado na Ponta da Praia, onde as aulas seriam ministradas. Os laboratórios, contudo, estavam situados no prédio da Av. Ana Costa. (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 13 de dezembro de 2006). Devo salientar que todas as necessárias adaptações e modificações estruturais nos prédios da Av. Ana Costa e na Ponta da Praia foram executadas sob a coordenação da arquiteta Luciana Diniz Guttilla, Diretora do Departamento de Engenharia da Coordenadoria de Expansão da UNIFESP.
Vale enfatizar que a expansão não quis dizer dias mais tranquilos para a instituição, pelo contrário, já tive de lidar com várias situações inusitadas. Por exemplo, no mês de março de 2007, fui a Santos proferir a aula inaugural do campus da Baixada Santista para a segunda turma de alunos. Foi no mesmo teatro que dei a primeira aula, lotado, uma festa, estavam lá todos os novos calouros para receber as boas-vindas, era a segunda turma que ingressava na universidade, motivo de grande júbilo. Mas, eis que aí surgiu o inesperado, de repente começa a chegar um grande grupo de alunos, todos com nariz de palhaço, cartazes, lá no fundo do teatro. Assim que terminei a palestra pedi que se aproximassem e explicassem o motivo dessa manifestação de desagrado. O problema era o seguinte: nós estávamos para construir a sede definitiva do campus, nos dois terrenos que haviam sido doados pela Codesp, o processo de licitação já havia tramitado e aprovado, porém houve um problema com a Prefeitura de Santos. Esses terrenos estavam servindo de depósito de veículos apreendidos pelo departamento de trânsito da cidade, tinham que ser retirados, mas nós não podíamos tomar posse dos terrenos porque os veículos estavam lá, a Prefeitura argumentava que não tinha para onde transferi-los. Na verdade, a Prefeitura estava fazendo corpo mole, inicialmente pediu um prazo de 45 dias para retirar os veículos, depois esticaram o prazo para 90 dias, e assim a coisa ia se arrastando, nada acontecia, os terrenos não podiam ser ocupados pela UNIFESP, e, consequentemente as obras não podiam ser iniciadas. Os estudantes estavam ali para protestar, exibindo nos cartazes que o reitor, no caso eu, estava enrolando-os, tinha prometido a sede, mas não tinha feito nada, que situação mais desagradável, o pior era que eu vinha pressionando a Prefeitura cotidianamente, ninguém tinha mais interesse em ver o início da construção em marcha do que eu. Inclusive o projeto do prédio que havia sido elaborado pela arquiteta Luciana Diniz Guttilla estava pronto e aprovado havia algum tempo. Eu não sabia desse movimento, mas sabia da enrolação da Prefeitura, e já havia comentado com a Coordenadora da Expansão, professora Lucila Carneiro Vianna que depois da aula queria ir até o terreno, ver como estava a situação. Então conversei com os estudantes sobre o protesto, dei liberdade a eles para que se expressassem livremente, debatemos, contei a história toda, que a escritura finalmente tinha sido passada, a licitação tinha sido feita, mas os veículos estavam lá, e, enfim, propus que fôssemos todos juntos até o terreno, todos em passeata a pé. Saímos, cerca de 300 pessoas pelas ruas, desde o teatro caminhando vários quarteirões em direção ao terreno, e, concomitantemente mandei chamar a imprensa, rádio, televisão, jornal, para registrar o que nós veríamos. Quando lá chegamos, realmente o terreno estava completamente tomado pelos veículos apreendidos. Chamei o encarregado, pedi que abrisse o portão, disse que estava lá para tomar posse do terreno e mandei os alunos entrarem, a imprensa toda lá, foi uma festa. O prefeito Papa, que era meu amigo, ficou irado comigo, mas teve que se comprometer publicamente a liberar o terreno, porque a imprensa cobriu a nossa “posse”. Os alunos fizeram uma grande manifestação de júbilo, uma semana depois o terreno estava vazio e as obras finalmente começaram. Essa foi apenas uma das situações complicadas que já enfrentei, ainda houve inúmeras outras. Em tempo, o prédio foi construído e se encontra em pleno funcionamento (Figura 62).
Em relação ao campus de Interlagos, com a intervenção do vereador Carlos Giannazi junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em março de 2004, iniciaram-se as tratativas para o repasse de um terreno de 60mil m2 para o MEC. Entretanto, no início de setembro de 2004, o reitor comunicou a impossibilidade desse repasse devido à ausência de um suporte legal, e, além disso, o terreno estava contaminado com material radioativo. (UNIFESP, Atas das reuniões do CONSU de 3 de março e 15 de setembro de 2004).
Em reunião, realizada em agosto de 2005, foi solicitada a cessão de um terreno de 15.000 m2, localizado em Santo Amaro e de propriedade da Prefeitura do Município de São Paulo, para instalação de um campus. (UNIFESP, Ata do CONSU de 10 de agosto de 2005). A cessão do terreno ocorreu em cerimônia, no dia 1 de outubro de 2005. (UNIFESP, Ata do CONSU de 5 de outubro de 2005).
Nesse campus, agora Unidade Santo Amaro, a proposta inicial foi a da construção de um imóvel para os cursos acadêmicos de Economia e Administração com ênfase em Gestão em Saúde, como também um prédio de pesquisas, em virtude da facilidade de locomoção oferecida. O então pró-reitor de graduação Luiz Eugênio de Mello esclareceu que Santo Amaro era um campus avançado da UNIFESP, onde não foram criados departamentos, diferentemente, dos outros campi da expansão. (UNIFESP, Ata do CONSU de 12 de julho de 2006).
Após negociação e acordo com os líderes das comunidades locais, essa unidade foi concebida para ofertar os cursos de extensão, com a construção de um Centro de Convivência. (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 4 de novembro de 2009).
A inauguração da Unidade Santo Amaro, do Campus São Paulo, ocorreu no dia 27 de maio de 2011, com a presença do então Magnífico Reitor Walter Albertoni, do Ministro da Educação Fernando Haddad, do Secretário da Educação Superior Luiz Cláudio Costa e do Prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, demais autoridades e políticos da região. Nessa ocasião, o reitor destacou a parceria da prefeitura com a UNIFESP e o investimento de R$ 1,5 milhões. (UNIFESP, Ata Universidade Federal de São Paulo de 8 de junho de 2011) (Figura 63).
Iniciava-se, em 2004, conjuntamente na universidade, a discussão do primeiro Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da UNIFESP. Nesse plano, a universidade devia esclarecer, para o Estado e para a sociedade, os seus objetivos e projetos para os próximos cinco anos (2005-2010). Na universidade, a elaboração desse documento devia envolver diferentes atores institucionais e ser construído a partir de uma oficina de sensibilização para delineamento de suas linhas gerais, além de uma ampla pesquisa com a comunidade acerca do que se pretendia para o futuro da universidade. (UNIFESP, Ata CONSU de 13 de outubro de 2004).
Na elaboração do PDI (2005-2010) da UNIFESP, a comissão responsável direcionou as ações para a expansão de seu escopo enquanto universidade pública, a fim de colocar em prática as ideias de expansão das áreas do conhecimento que eram discutidas, na UNIFESP, por meio de debates.
Na discussão do processo de expansão, estava incluída a criação de novos campi, como o da Baixada Santista, com novos cursos da área tradicional da universidade, além de outros cursos de graduação e novas áreas do conhecimento. A ideia era que, inicialmente, os cursos a serem criados tivessem interface na área da saúde. Assim, utilizando-se as competências institucionais e a capacitação humana que a UNIFESP já apresentara.
O PDI trazia a implementação, para 2005, das Ações Afirmativas da Educação, com a expansão, em 10%, da oferta do número de vagas da graduação para negros/pardos e indígenas, provenientes de escolas públicas. (UNIFESP, Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2005-2010. São Paulo, SP, 2005).
No decorrer da implantação desses primeiros campi, o reitor Ulysses Fagundes Neto trouxe aos conselheiros do CONSU a notícia da criação de uma universidade na região do ABC e que a UNIFESP havia declarado interesse em participar do processo. O Secretário da SESu Nelson Maculan à época, assim se manifestou:
(…) para o MEC seria mais vantajoso a expansão da UNIFESP do que a criação de outra Universidade, pois geraria mais gastos, o que seria motivo de críticas no Estado de São Paulo como em outros estados, mas que também querem criar outras Universidades, porque somente 8% dos jovens estudam em universidades públicas. (Ata do CONSU de 10 de novembro de 2004).
Esse fato gerou uma ampla discussão entre os conselheiros. O então pró-reitor de extensão Walter Albertoni, disse na ocasião “já somos universidade há 10 anos, precisamos crescer e contamos com profissionais competentes para tanto”. Outro conselheiro comentou que “deveríamos aceitar o desafio, que o CONSU ficará diversificado com profissionais de várias áreas, mas temos de preservar a qualidade do ensino”. Nessa reunião, o reitor afirmou que o processo continuaria, apenas, se a UNIFESP permanecesse na liderança do mesmo e com a garantia de implantá-lo com qualidade. Essa proposta foi colocada em votação e aprovada pelos conselheiros presentes, com uma abstenção. (UNIFESP, Ata do CONSU de 10 de novembro de 2004).
Em seguida à aprovação pelo CONSU fui convocado pelo ministro da Educação Tarso Genro para uma reunião, em Brasília, com o coordenador do projeto Marco Antonio Raupp e os representantes dos prefeitos da região do Grande ABC (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano, Diadema, Ribeirão Pires, Mauá e Rio Grande da Serra). Nesta ocasião ficou tudo acertado quanto a implantação da expansão da UNIFESP para a região. Entretanto, logo a seguir do meu retorno a São Paulo, recebi em minha sala a visita do Deputado Federal Newton Lima, ex-reitor da UFSCAR que questionou a presença da UNIFESP na região do ABC. Ele argumentou que era um grande admirador da UNIFESP, mas, entendia que não cabia nossa expansão para a região, lá deveria ser implantado o campus da Universidade Federal do ABC. Ele enfatizou que era uma espécie de eminência parda do presidente Lula para a área da Educação e iria cancelar a decisão anterior. Realmente, este fato ocorreu, porque, em março de 2005, fui convocado para uma audiência com o Ministro da Educação, quando fui comunicado que ficava afastada a possibilidade de participação da UNIFESP na implantação da Universidade do ABC. (UM IFESP, Ata do CONSU de 9 de março de 2005). Tudo indicava que Newton Lima não estava blefando, tinha o poder que havia alardeado.
O prefeito de Diadema, José de Fillipi Junior sabedor desta decisão tomou a inciativa de me telefonar oferecendo a cidade de Diadema para implantação da expansão da UNIFESP na região do ABCD. Minha relação com José de Fillipi Junior tinha algo histórico, vinha de longa data por causa do seu pai Professor José de Fillipi. O prefeito havia me visitado havia algum tempo para discutir comigo o projeto de implantação do Quarteirão da Saúde para a população de Diadema. Esta foi a minha primeira relação com Fillipi Junior, e, nesta conversa soube que ele era o filho de José de Fillipi, que havia sido meu professor de Infectologia, e com quem durante todo o ano de 1969, no meu internado, dei plantões semanais sob sua orientação no Hospital Emílio Ribas. Estabelecemos naquele ano uma relação de grande amizade, eu o admirava muito por sua capacidade técnica e pela forma gentil que tratava todo o pessoal do hospital e os pacientes. Vivenciamos grandes momentos de estresse devido aos vários surtos epidêmicos de varíola, difteria, leptospirose, meningites entre outras enfermidades infecciosas que assolavam nossa cidade e a região metropolitana. Quando José de Filipi Junior me telefonou, propondo a expansão da UNIFESP para Diadema, eu estava em minha casa convalescendo de uma cirurgia de prótese do joelho. Imediatamente aceitei a proposta e lhe comuniquei que iria levar a proposta para o CONSU.
Em julho de 2005, foram discutidas as primeiras tratativas em relação a dois novos campi de expansão Diadema e São José dos Campos. Em Diadema, o início do novo campus se deu a partir de um convite do então prefeito da cidade José de Fillipi Junior que assumia o compromisso de fazer a doação de uma área para a universidade implantar o novo campus. O reitor informara que as negociações, em relação ao campus de Diadema estavam avançadas quanto à área, porém, incialmente, foi proposto um edifício que não se adequava às necessidades. Por esse motivo, o prefeito ofereceu à UNIFESP uma área de preservação ambiental com 375 mil m2, próximo a represa Billings. (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 13 de julho de 2005). De fato, nesta ocasião juntamente com Manoel Palácios e José de Fillipi Junior, fizemos um voo de helicóptero sobre a área, denominada sítio Morungaba, que se adequava perfeitamente para ser o campus definitivo da UNIFESP em Diadema. A arquiteta Luciana Diniz Guttilla ponderou que deveríamos fazer um concurso público para definir a escolha do futuro projeto arquitetônico do campus. O concurso foi posto em marcha coordenado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil e teve como vencedor um escritório de jovens arquitetos de Curitiba. No dia 7 de dezembro de 2005, houve uma solenidade, na Prefeitura Municipal de Diadema, para a cessão do terreno. (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 5 de outubro de 2005).
A aprovação dos seguintes cursos, para o campus, foi comunicada pelo pró-reitor de graduação Luiz Eugenio de Mello, após discussão no CONGRAD: Ciências Biológicas – bacharelado, Engenharia Química, Farmácia e Bioquímica, Química. Em outubro de 2005, o reitor colocou em votação a implantação dos cursos que foram aprovados. Na ocasião, o reitor ressaltou que “aprovada a expansão para Diadema e Guarulhos com os cursos apresentados, que se consolide a universidade como o Brasil quer”. (UNIFESP, Atas das reuniões do CONSU, de 5 de outubro e de 14 de dezembro de 2005).
No dia 1 de novembro, foram recebidos os primeiros 40 professores aprovados para o Campus Diadema (UNIFESP, Atas das reuniões do CONSU de 10 de maio, de 22 de junho e de 8 de novembro de 2006).
No dia 6 de março de 2007, teve início a graduação no campus, com 50 vagas para cada um dos cursos: Ciências Biológicas – bacharelado, Engenharia Química, Farmácia e Bioquímica e Química, sob a coordenação da diretora indicada Professora Virginia Junqueira.
Em agosto de 2007, com a presença do Magnífico Reitor e do Prefeito de Diadema, ocorreu a cerimônia para assinatura da escritura de doação do prédio do Campus Diadema que já se encontrava em funcionamento. Era um terreno de 20 mil m2 (UNIFESP, Ata do CONSU de 12 de setembro de 2007). Este edifício que havia sido no passado um hospital psiquiátrico, inclusive o extraordinário cantor e compositor Raul Seixas aí esteve internado em algum momento da sua vida, necessitou ser adaptado para atender as necessidades de se tornar apropriado para funcionar como faculdade. Todo o processo de reformas e adaptações para satisfazer as necessidades específicas dos corpos docente e discente estiveram sob a coordenação da arquiteta Luciana Diniz Guttilla. Em homenagem ao meu antigo professor de Infectologia o edifício passou a ser denominado Professor José de Fillipi (Figura 64).
Em relação à criação de um campus no município de São José dos Campos, o primeiro contato foi feito pelo prefeito Eduardo Cury que desejava nos entregar a administração do hospital Municipal e, também, a implantação de um Instituto de Biotecnologia, localizado no Parque Tecnológico, um terreno de 300 mil m2 que havia pertencido a uma fábrica que havia se transferido para outra cidade do estado de São Paulo, cuja infraestrutura de pessoal foi oferecida pela prefeitura São José dos Campos. (UNIFESP, Ata do CONSU de 13 de julho de 2005).
Em agosto, o convênio com a Prefeitura Municipal de São José dos Campos foi assinado para a implantação do Instituto de Biotecnologia, em uma área de 188 mil m2. A partir de então, foi instituída uma comissão, no âmbito do CONSU, que estaria incumbida da elaboração do projeto para essa implantação. (UNIFESP, Ata do CONSU 10 de agosto de 2005).
Em abril de 2006, a prefeitura cedeu uma área com 188 mil m2 e 35 mil m2 de área construída, para que fosse implementada uma sede do Instituto de Tecnologia Biomédica. (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 12 de abril de 2006).
O apoio inicial do MEC, para implantação do Parque Tecnológico e do campus de São José dos Campos, ocorreu em reunião com o Secretário da SESu Nelson Maculan Filho, com o pró-reitor de graduação Luiz Eugenio de Mello e com o vice-prefeito de São José dos Campos Riugi Kogima, em Brasília. (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 13 de setembro de 2006).
Nesse campus, o primeiro curso de graduação implantado foi o de Ciências da Computação que contou com 50 vagas e teve início em 2007, com recursos disponibilizados pelo MEC, com ênfase na interface entre tecnologia e saúde. (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 11 de outubro de 2006) (Figura 65).
A implantação de um campus da UNIFESP em Guarulhos foi citada, pela primeira vez, pelo reitor em reunião do CONSU, de 14 de dezembro de 2005. O reitor havia sido procurado pelo prefeito de Guarulhos Elói Pietá com a proposta da criação do campus de Guarulhos e, também, a oferta da administração do Hospital Pimentas Bonsucesso. A aprovação da instalação do Campus Guarulhos, com sede no bairro dos Pimentas, foi efetivada por meio da Resolução nº 32, de 15 de dezembro de 2005. Na resolução, foi aprovada a criação dos cursos de Ciências Sociais, Pedagogia, História e Filosofia (UNIFESP, 2005).
As atividades do Campus Guarulhos iniciaram-se no mês de junho, e foram marcadas por grande celebração por importantes membros do governo federal com a presença do presidente da república Luís Inácio Lula da Silva e vários ministros da república, entre eles o da Educação Fernando Haddad e o da Cultura Gilberto Gil, que chegou a cantar algumas das suas músicas de sucesso, sendo acompanhado com entusiasmo pela plateia que lotava o galpão que havia sido improvisado para dar lugar à cerimônia de inauguração do campus (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 12 de abril de 2006) (Figuras 66-67).
Na reunião do CONSU de novembro de 2006, a Diretora Acadêmica do Campus de Guarulhos Cynthia Andersen Sarti resgatou a história da constituição do campus. Comentou dois desafios nesse processo: a introdução de áreas do conhecimento diferentes das predominantes na UNIFESP até então e a implantação de cursos noturnos (ambos estranhos à cultura da UNIFESP). Pelo relato da professora, foi criada, em 2005, uma comissão na pró-reitoria de graduação, com a presença de professores das áreas de humanas da UNIFESP, para a discussão do modelo curricular dos cursos de Ciências Sociais, Filosofia, História e Pedagogia que foram aprovados pelo MEC. Destacou a proposta de implementação de dois eixos: um que garantisse uma formação sólida na área e outro que extrapolasse a área e preparasse o aluno para a interdisciplinaridade. Na ocasião, o reitor ressaltou que a UNIFESP havia passado de 5 cursos com 490 vagas, para 19 cursos com 1.150 vagas, e, que no dia 1 de novembro de 2006, haviam sido recebidos os novos 40 professores do campus. (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 8 de novembro de 2006).
O início do ano letivo do campus Guarulhos ocorreu no dia 5 de março de 2007, com 50 vagas para cada um dos cursos aprovados. (UNIFESP, Ata da reunião do CONSU de 14 de março de 2007).
Na mesma reunião, o reitor informou a realização da cerimônia de assinatura da escritura de área de 20 mil m2, junto com o Prefeito do Município de Guarulhos Elói Pietá, onde se localizavam as salas de aula e o Teatro Adamastor Pimenta do Campus Guarulhos. (UNIFESP, Ata do CONSU de 12 de setembro de 2007) (Figura 68).
Em junho de 2007, o pró-reitor de graduação Luiz Eugenio de Mello apresentou, na reunião do CONSU, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). O professor informou que seria um programa de reestruturação das universidades públicas e ele foi publicado, pelo MEC, por meio do Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007. (UNIFESP, Ata do CONSU de 13 de junho de 2007).
O programa visava melhorar a taxa professor/aluno para 18 alunos por professor, incentivar a mobilidade estudantil e aumentar a vinculação entre a graduação e a pós-graduação. O pró-reitor também esclareceu que, no conjunto dos objetivos, constava o aumento do número de alunos, principalmente, no período noturno e o aumento do número de cursos. Salientou, ainda, a possibilidade de se conseguir um acréscimo de recursos para a instituição que poderia solicitar um aumento de 20% no número de servidores docentes e técnico-administrativos, bem como para a OCC e recursos para obras. Esses recursos deveriam ser solicitados mediante proposta institucional. O professor informou que a submissão de propostas deveria ocorrer até o mês de outubro de 2007 (UNIFESP, Ata do CONSU de 13 de junho de 2007).
Em outubro de 2007, o programa REUNI foi apresentado com maiores detalhes e com a proposta de adesão da UNIFESP. O pró-reitor de graduação esclareceu que a proposta havia sido fruto de uma série de reuniões, com início em abril no CONGRAD, com ampla discussão e participação dos membros desse conselho e com discussões nos campi da UNIFESP (UNIFESP, Ata do CONSU de 17 de outubro de 2007).
Nessa ocasião, ressaltou novamente as dimensões do REUNI para a reestruturação da educação superior pública: 1) o aumento de vagas de ingresso, especialmente no período noturno e redução das taxas de evasão; 2) a reestruturação acadêmica curricular; 3) a renovação pedagógica da educação superior; 4) a mobilidade intra e interinstitucional; 5) o compromisso social da Instituição e 6) o suporte da pós-graduação ao desenvolvimento e aperfeiçoamento qualitativo dos cursos de graduação. A proposta de adesão da UNIFESP ao programa, detalhada a seguir, foi colocada em votação e foi aprovada com 32 votos a favor, 4 votos contrários e 9 abstenções. (UNIFESP, Ata do CONSU de 17 de outubro de 2007). De acordo com o documento “Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) – Proposta de adesão”. (UNIFESP, 2008), o projeto, encaminhado ao MEC, previa um aumento de 1.248 vagas nos vestibulares da UNIFESP que ficariam assim distribuídas: 53 em 2008, 625 em 2009, 370 em 2010 e 200 em 2011, o que significaria um aumento de 108% em relação às vagas oferecidas no ano de 2007.
Na reunião de novembro de 2007, o pró-reitor de graduação comunicou o envio da proposta para o MEC, ocorrida no dia 29 de outubro de 2007. (UNIFESP, Ata do CONSU de 21 de novembro de 2007).
DISCURSO DE RECONDUÇÃO – 1° de agosto de 2007
Minhas palavras iniciais são de agradecimento a toda nossa comunidade, composta por docentes, servidores e funcionários, estudantes de graduação, estudantes de pós-graduação sentido amplo e restrito (mestrado e doutorado) e médicos residentes, que compuseram o colégio eleitoral e que nos sufragou com 86% dos votos. Entendo que este percentual de apoio reflete uma clara demonstração de aprovação à nossa gestão, o que muito honra nossa equipe de trabalho, a qual ao longo destes últimos 4 anos de intensas batalhas se empenhou de corpo e alma, em prol da preservação da excelência da nossa querida UNIFESP.
Em segundo lugar, mas não menos importante desejo consignar meu preito de gratidão aos membros do nosso Conselho Universitário que, com grande ousadia e firme vontade política, decidiu por unanimidade e posterior aclamação, aceitar o desafio de mudar para sempre a história da nossa universidade. Deixamos definitivamente de ser a querida Escolinha, para nos transformarmos numa pujante Universidade, a qual ao
incorporar novas áreas do conhecimento passa a trilhar os mais diversos e fascinantes caminhos da universalidade dos campos do saber, mas mantendo preservado o tradicional selo de excelência de qualidade conquistado ao longo dos tempos. Este passo decisivo e corajoso nos guindará, estou seguro, em breve futuro, ao topo das mais prestigiosas universidades internacionais, posto que estamos expandindo nossas fronteiras na produção do conhecimento, o que nos torna, assim, uma universidade plena. Mais uma vez, portanto, passamos a ser motivo de justificado orgulho do povo paulista a serviço do Brasil, ao mesmo tempo em que contribuímos de forma significativa para a melhoria da qualidade de vida do ser humano. Isto posto, considero que os 93% dos votos que recebi dos membros do nosso Conselho Universitário para esta nova gestão que agora se inicia, na verdade não são apenas meus e desta excepcional equipe que me acompanha para mais uma árdua e honrosa jornada, mas sim são absolutamente compartilhados com todos vocês, porque juntos enfrentamos todas as agruras que se apresentaram nestes 4 anos passados e juntos construímos com muito labor esta nova face da UNIFESP. Constituímo-nos em verdadeiros agentes de transformação de uma antiga e acomodada situação que já perdurava por décadas para enfrentarmos com o espírito renovado uma nova e promissora realidade. Portanto, desejo deixar explicitado, neste momento, a toda nossa comunidade e a todos nossos convidados este mérito extraordinário do nosso Conselho Universitário pelo seu alto sentido de engajamento nas boas causas do mundo acadêmico em benefício da sociedade.
Um agradecimento muito especial ao nosso corpo docente que soube entender e apoiou as duras medidas iniciais que foram tomadas, sérias e duradouras, porém necessárias para o equacionamento dos problemas internos existentes. A compreensão de que eram ações que teriam efeito negativo temporário e o crédito de confiança que nos foi depositado tornou-se de fundamental importância para que obtivéssemos o êxito final alcançado. Desejo também agradecer profundamente nossos servidores e funcionários, parceiros essenciais, pelo esforço e dedicação extraordinários para o engrandecimento da nossa instituição.
Aos nossos estudantes desejo felicitá-los pela forma brilhante com que representam a UNIFESP quer seja no campo acadêmico quer seja nas disputas esportivas universitárias, onde temos obtido vitórias maiúsculas. Felicito-os também pela maneira absolutamente civilizada de reivindicar aquilo que lhes parece de direito, sempre dispostos ao diálogo franco e transparente. Sua intensa participação nas causas pertinentes à vida universitária com o entusiasmo próprio da juventude e a visão crítica do mundo são essenciais para o engrandecimento e o fortalecimento das instituições democráticas. O desejo e a ânsia de querer viver em uma sociedade solidária e justa é altamente salutar, e o jovem traz embutido em seu coração e em sua mente o germe irrefreável da transformação da sociedade. Nossos estudantes são nossos bens de maior valia e como tal merecem toda nossa atenção, dedicação e carinho. Neles está depositado o futuro da nação, e que este futuro venha com urgência e que nos traga uma sociedade com igualdade de oportunidades, com justa distribuição de renda, que seja desprovido de iniquidades sociais, sem violência, e aonde o exercício pleno da cidadania não seja uma mera promessa vazia de palanque de políticos demagogos e sim uma conquista real e definitiva para toda a população.
Há 4 anos no meu discurso de posse afirmei que era chegado o momento de inverter o lema positivista da nossa bandeira. Deveríamos colocar ordem no nosso progresso e que uma vez atingido este objetivo mais progresso viria. Com efeito, foi o que se verificou na prática, pois neste período crescemos em um ritmo espetacular, jamais igualado em nossos quase 75 anos de história. Aproveitamos os fatores conjunturais favoráveis do país e lideramos o processo de expansão das universidades federais. A abertura do campus da Baixada Santista serviu de modelo para este ambicioso e ousado projeto de mudança de paradigma. Logo a seguir vieram os campi de Diadema, Guarulhos, e São José dos Campos. Desde nossa fundação em 1933 até 1970 havíamos criado 5 cursos de graduação, sendo todos na área da saúde. Atualmente passamos a oferecer 19 cursos ampliando nosso campo de atuação abrangendo também as ciências exatas, as ciências biológicas e as humanidades. Deixamos assim de ter um rótulo de especificidade exclusivista a “Universidade da Saúde” para, sem perder o reconhecimento de excelência neste campo do saber, nos tornamos uma Universidade plena, multicêntrica e polivalente. Com o processo de expansão veio também o crescimento financeiro, tanto para o campus de São Paulo que teve seu orçamento de custeio e capital dobrados, graças à compreensão por parte do ministro da Educação Fernando Haddad das nossas imperiosas necessidades de sobrevivência, bem como o natural financiamento de investimento, capital e custeio para os campi recém-criados. Concomitantemente houve um aumento extraordinário de nossa área física. Em São Paulo, o então prefeito José Serra doou um terreno de cerca de 20.000 m2 em Santo Amaro onde desenvolveremos uma série de projetos sociais ligados à Pró Reitoria de Extensão. Em Santos a CODESP nos doou 2 terrenos de 5.500 m2 cada para a construção da nossa sede definitiva, cuja obra, aliás, já está em pleno andamento. Mais ainda, graças ao apoio do prefeito João Carlos Papa o governo do estado nos doou o prédio da Hospedaria dos Imigrantes, uma edificação monumental de 20.000 m2 de área construída, obra do século XIX e que necessita ser restaurada para ser devidamente incorporada ao nosso patrimônio. Na Praia Grande o prefeito Mourão entusiasmado com a implantação do Instituto das Ciências do Mar nos doou uma área de mangue de preservação ambiental de 1.300.000 m2. Em Diadema o prefeito José de Fillipi nos doou uma área também de preservação ambiental e de manancial, pois está à beira da represa Billings, de cerca de 400.000 m2 para a construção da nossa sede definitiva e, ainda este mês, também irá nos doar o imóvel que presentemente serve como sede provisória que foi totalmente reformado e adequado às nossas necessidades de ensino, e que possui cerca de 30.000 m2. Em Guarulhos o prefeito Elói Pietá nos doou uma área de 19.000 m2 constituída por imóvel de 11.000 m2 de salas de aula já construído além de um magnífico teatro com capacidade aproximada para 800 pessoas. Por outro lado, nosso crescimento não se limitou ao processo de expansão para outros campi, aqui na Vila Clementino inúmeras benfeitorias também foram realizadas. Indiscutivelmente a de maior visibilidade é o prédio de pesquisa 2, cuja obra está em processo de finalização e ainda este mês será entregue aos nossos cientistas. Vale ressaltar que esta construção se tornou possível graças à extraordinária qualidade científica de nossos pesquisadores que em uma ação conjunta conseguiram vencer vários editais da FINEP para financiamento de obras de infraestrutura. Outras obras marcantes também foram executadas, tais como a reforma do centro cirúrgico do HSP uma doação de cerca de R$ 4.500.000 do Bradesco, a conclusão do prédio do Instituto da Mão (obra que permaneceu interrompida alguns anos por falta de financiamento), a restauração do anfiteatro Leitão da Cunha, doação do Banco Santander de R$ 3.000.000, a reforma do prédio de administração da Reitoria, doação do Banco do Brasil de R$ 5.000.000, a construção da escada de incêndio do Edifício de Ciências Biomédicas, a reforma do INFAR, a restauração dos painéis de afresco dos prédios da Escola Paulista de Enfermagem e Leal do Prado, a reforma do PS do HSP, a reforma da Unidade de Transplantes do HSP, a reforma da casa de coleta do HSP e para não ser mais exaustivo o novo prédio dos ambulatórios. E, por fim, ainda no campo do HSP a recente assinatura do Convênio com o governo do estado de São Paulo no valor de R$ 24.000.000 para financiamento da adequação física das suas enfermarias para torná-las homogêneas obedecendo a um alto padrão de qualidade.
Para poder acompanhar este fantástico crescimento físico, no qual mais do que se triplicou o número de cursos oferecidos pela UNIFESP, também se tornou imperioso ampliar proporcionalmente o número de docentes e servidores técnico-administrativos da instituição, o que de fato ocorreu. Ao longo destes 4 anos foram contratados por meio de concursos públicos 237 novos docentes nos diversos campi, todos eles portadores do título de Doutor. Para o campus de São Paulo foram 115 docentes, sendo que 31 destes concursos foram para Professor Titular, o que proporcionou um salto de 75% no número anteriormente existente que era de 56, mas que decresceu para 44 Professores Titulares, devido a aposentadorias e falecimentos. Desta forma nosso Conselho Universitário experimentou uma notável renovação na sua composição incorporando novos cérebros privilegiados para auxiliar na orientação dos destinos da UNIFESP. Em Santos foram contratados 52 docentes, em Diadema e Guarulhos 40 docentes em cada campus. Vale enfatizar que os 100% dos docentes contratados por concurso para atuar nos campi da expansão são portadores do título de Doutor, o que é algo absolutamente inédito na história da UNIFESP e das instituições universitárias federais do país. Mais ainda, analisando o currículo destes nossos novos colegas, pode-se verificar que a maioria deles realizou curso de pós-doutorado, no país ou no exterior, em reconhecidas e prestigiosas instituições universitárias, sendo possuidores de linhas de pesquisa próprias consolidadas, e que, portanto, de imediato devem começar a produzir conhecimento a partir dos financiamentos obtidos junto às agências de fomento à pesquisa. Neste período foram também contratados 91 professores visitantes e 29 professores substitutos, além de termos conferido o título de professor afiliado a 98 profissionais ligados à nossa instituição. Foram também contratados por concurso nestes 4 últimos anos 1554 servidores técnico-administrativos. Como se pode deparar destes números foi necessária a realização de 1791 concursos públicos, um recorde histórico na universidade federal, o que exigiu uma verdadeira operação marcial, mobilizando toda a estrutura administrativa da universidade em esforço hiper concentrado para a sua efetivação, e que envolveu 504 examinadores para a escolha dos melhores candidatos, posto que a demanda apenas para as 132 vagas docentes da expansão foi de 816 candidatos, portanto mais de 6 candidatos/vaga, todos portadores do título de doutor. Estes números atestam de forma cabal a imensa potencialidade que a universidade pública apresenta para atrair jovens pesquisadores de grande competência, ávidos por ingressar em uma carreira que oferece reais perspectivas de crescimento intelectual, visto que é nas universidades públicas que se dá a possibilidade da geração de conhecimento. Além de muitas outras, esta é mais uma importante razão que faz do processo de expansão das universidades públicas federais uma imperiosa necessidade da nação, posto que a oferta de excelentes profissionais ainda é muito superior à capacidade de absorção por parte das instituições públicas, que são estas as que realmente estão interessadas no campo da pesquisa, do desenvolvimento e da inovação.
O processo de expansão resultou também em um aumento espetacular no número de vagas oferecidas no exame vestibular de ingresso à universidade. A UNIFESP que há muitos anos dispunha da oferta de apenas 300 vagas para seus cursos no campus de São Paulo deu um salto enorme para 1150 vagas, portanto quase 4 vezes mais do que o até então disponível, proporcionando uma maior possibilidade aos jovens brasileiros de cursar uma universidade pública e de qualidade reconhecida. Com esta iniciativa aumentamos também o número de estudantes matriculados, que tradicionalmente era de 1420, passando em 2007 para 2350 estudantes e quando este processo estiver concluído nosso corpo discente será composto por 4860 alunos de graduação, 3,4 vezes maior do que o originalmente disponível. Paralelamente o número de inscritos para o exame vestibular também sofreu um aumento significativo passando de cerca de 13000 para aproximadamente 24000 postulantes. Outro aspecto de importância diz respeito ao número de candidatos por vaga, que mesmo nos novos cursos mostrou-se tão elevada quanto naquelas já bem estabelecidas universidades públicas, o que atesta o acerto da medida tomada e reflete de forma inquestionável o enorme prestígio que representa a marca UNIFESP no meio estudantil universitário. Vale também ressaltar que pela primeira vez passamos a oferecer cursos noturnos, isto ocorreu no campus de Guarulhos e a procura por vagas foi maior do que a dos cursos vespertinos, portanto, passamos a atender uma demanda importante que estava reprimida. A UNIFESP também inovou no campo das ações afirmativas, depois de intensas e frutíferas discussões internas e com experts da sociedade civil aprovou em 2004 para ser implementado em 2005 um incremento de 10% de vagas novas para o sistema de cotas, de tal forma a propor um modelo de inclusão sem afetar as vagas existentes oferecidas pelo sistema universal do vestibular. A primeira experiência trouxe resultados animadores, posto que a avaliação do desempenho dos estudantes demonstrou que não houve diferenças significativas ao longo do ano letivo, entre as notas dos ingressados pelos diferentes sistemas existentes.
Nossas atividades de extensão constituem uma ponte entre a universidade e a sociedade que nos financia, e nesta relação as demandas são infindáveis porque elas se revertem em benefício da própria população. Os projetos sociais, que somam mais de 200, estavam isolados nos diferentes departamentos acadêmicos ou eram de iniciativa pessoal de docentes ou de estudantes, passaram a ser devidamente registrados o que trouxe maior organização e possibilitou um controle mais eficiente da sua avaliação. Dentre os inúmeros projetos coordenados pela extensão destacamos o Lar Escola São Francisco, o programa de atenção à saúde à população do Parque Indígena do Xingu que em 2005 completou 40 anos de atividades ininterruptas, o Projeto Pirado em Santo Amaro, o curso pré-vestibular organizado pelos nossos estudantes que é ministrado totalmente gratuito para alunos da rede pública de ensino, o projeto educacional das populações ribeirinhas em Cananéia, A Universidade Aberta da Terceira Idade, agora com uma filial em Santos implantada em 2006 com enorme sucesso, são alguns entre outros projetos de notória importância. Os cursos credenciados de especialização, que em 2003 somavam 185 programas em 2006 passaram a ser 250 (aumento de 74%) atendendo mais de 6000 alunos regularmente matriculados, estão diretamente ligados à extensão. A Residência Médica também ligada à extensão sofreu um incremento espetacular, atualmente conta com 654 bolsas constituindo-se no maior programa desta natureza do país. Uma grande mudança no exame de ingresso foi a introdução do exame prático que revolucionou o sistema abalando a validade de existência dos malfadados cursinhos e valorizando sobremaneira os estágios práticos do internato. A UNIFESP mantém 62 programas de Residência Médica, sendo 22 de acesso direto, 20 em especialidades que exigem pré-requisito e 20 programas opcionais – áreas de atuação de especialidades reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina.
Produzir mais e melhor ciência, com liberdade de organização e, basicamente, com os mesmos recursos financeiros e humanos disponíveis, este foi o desafio a ser vencido, como de fato o foi na área da pós-graduação e pesquisa. A partir de 2003 uma resolução determinou que para ser autorizada a montagem de uma banca para a defesa da tese, o candidato deveria ter seu trabalho acadêmico submetido a uma publicação em periódico indexado. Esta medida acarretou um crescimento de 50% nas publicações. Estes resultados que representaram uma verdadeira mudança de paradigma mostraram o acerto desta decisão. Atualmente, na área da pós-graduação sentido estrito, mestrado e doutorado são desenvolvidos 43 programas para um total de 1789 alunos de mestrado e 1556 alunos de doutorado matriculados em 2006. Somente naquele ano ocorreu a homologação de 395 teses de mestrado e 278 teses de doutorado. Vale ainda ressaltar que 80% dos nossos alunos de pós-graduação são originários dos mais diversos locais do país e inclusive do exterior. Neste segmento contávamos em 2003 com 493 professores orientadores, os quais compunham 127 grupos de pesquisa cadastrados junto ao CNPq, desenvolvendo 387 linhas de pesquisa. Atualmente contamos com 774 professores orientadores coordenando 432 linhas de pesquisa. Esta transformação dos princípios que norteavam a organização da pesquisa para uma proposta mais desafiadora, além de coadunar-se com a tendência internacional, preparou terreno para a desejada e imediata inserção no sistema, dos docentes nos campi recentemente criados. Hoje o jornal O Estado de São Paulo publica uma matéria com o título “Produção científica cresce mais de 200% nas grandes universidades”, relatando que segundo relatório da CAPES entre as 15 maiores universidades com maior produção científica no momento, 11 cresceram mais de 200% em relação a dez anos atrás. As seis primeiras colocadas – USP, UNICAMP, UFRJ, Unesp, UFURGS, e UFMG – mantêm suas posições no ranking desde 1996, com aumento significativo da sua produção científica. A UNIFESP encontra-se em sétimo lugar (dá para classificar para a copa Sul-Americana, mas ainda não alcançamos a Libertadores da América) tendo publicado em 2006 em revistas indexadas internacionalmente 685 trabalhos com um aumento de 379% na produção científica nestes últimos dez anos. Diz ainda a matéria que a área do conhecimento com maior número de publicações no Brasil hoje é a medicina e que uma das instituições que mais contribuiu para isso foi a UNIFESP. Em outras palavras, quando aplicamos o malfadado fator de correção, do qual já estamos fartos, nós nos colocamos entre os primeiros. Acontece, porém, que o fator de correção não aparece nas estatísticas oficiais, é necessário esmiuçar os dados disponíveis para encontrarmos este aspecto peculiar da nossa área de atuação. O grande desafio está lançado, a partir da nossa expansão nestes próximos dez anos teremos que mudar muito para cima a posição da UNIFESP no ranking da produção científica no país.
A criação da Fundação de Apoio à UNIFESP em 2005, depois de longas e profundas discussões envolvendo toda nossa comunidade, aprovada pelo Conselho Universitário veio em boa hora para normalizar uma situação considerada irregular pelo Tribunal de Contas União, qual seja a existência dos chamados órgãos suplementares que recebiam repasses financeiros para departamentos e disciplinas através dos centros estudos. Os principais instituidores da FAP são os institutos e centros vinculados à universidade que ao se cotizarem possibilitaram a fundação a comprar um imóvel próprio, e que desde então permitiu seu funcionamento regular atuando dentro da sua proposta como um organismo autônomo e gerador de recursos sob o estrito controle do Conselho Universitário.
Ao longo destes 4 anos tivemos uma grande preocupação em cuidar do ser humano que gravita em torno da nossa instituição como um todo, mas uma atenção mais particular foi dedicada aos nossos servidores e funcionários, sabedores que somos de todas as dificuldades financeiras e sociais que enfrentam no seu dia a dia em virtude da baixíssima remuneração que percebem mensalmente. Para minimizar esta injusta situação socioeconômica foram tomadas inúmeras medidas de valorização daqueles que dão apoio à atividade fim da universidade, para que pudessem evoluir pessoal e profissionalmente. Em 2004 criamos a Comissão de Capacitação do Pessoal Técnico-Administrativo para motivar os servidores e favorecer a ascensão na carreira, o que reverteu em benefício pecuniário, além de tê-los tornado mais bem preparados, através da realização de cursos modulares que foram ministrados em horário de almoço e durante os fins de semana. Este programa, que se encontra em plena atividade, redundou em grande sucesso atraindo de forma maciça nossos servidores e até o presente momento já foram capacitadas 3022 pessoas, o que representa 70,6% da nossa força de trabalho. As aulas são ministradas por profissionais de nível superior arregimentados por voluntariado no seio da UNIFESP, os quais se dispõem a colaborar espontaneamente em uma extraordinária demonstração de solidariedade e espírito cívico. A todos eles fica aqui registrada nossa enorme gratidão. Outras ações merecem destaque tais como a ampliação da Escola Paulistinha de Educação, o Centro de Educação Informal e Escola de Artes e Ofícios, todas elas ligadas ao Departamento de Assuntos Comunitários e que prestam excelente serviço à nossa comunidade. Em 2003, tomando como base o anteprojeto de gestão foi criado o Programa Pró Qualidade de Vida com objetivo de “cuidar de quem cuida”. Era necessário ter um pensamento sobre educação mais além do que algo apenas atrelado à empregabilidade e à competitividade, haveria que ser valorizado o crescimento do ser humano em sua plenitude. Todos estes objetivos foram perseguidos por meio de cursos, palestras, eventos e campanhas. Mas o conceito de qualidade de vida engloba ainda aspectos relacionados ao lazer, esporte e cultura. Desta forma inúmeras atividades, tais como festas, bazares, exposições de artesanato, apresentações musicais no horário de almoço, ginástica laboral, aulas de yoga, condicionamento físico além de muitas outras atrações, foram promovidas com a correspondente participação ativa dos nossos servidores e funcionários.
Após estes 4 anos enfrentando grandes desafios que acarretaram mudanças essenciais na estrutura da nossa universidade é novamente chegado o momento de revermos o lema positivista da nossa bandeira no seu sentido inverso, é de novo necessário colocarmos ordem no progresso. E para tal a reforma do nosso estatuto se faz urgentemente necessária, há que se definir que modelo de universidade queremos ser. É com uma visão no futuro, até onde a nossa vista e a nossa inteligência consigam alcançar, que nossos pensamentos devem estar dirigidos, totalmente despojados de paixões momentâneas ou de sentimentos voluntariosos por querer fazer prevalecer este ou aquele ponto de vista que se possa impor como a verdade absoluta. Nesta discussão não poderá haver vencedores nem vencidos, somente a UNIFESP deve ser a ganhadora, é para servi-la que aqui dedicamos nosso dia a dia de trabalho. É necessário grandeza de espírito e elevado sentimento de compreensão e respeito pela diversidade de opiniões, que se espera sejam desprovidas de preconceitos e discriminações. Acima de tudo deve ser lembrado que podem existir múltiplos campi, mas há apenas uma UNIFESP, que tem que ser preservada sempre coesa, integrada, intimamente articulada em todas as suas estruturas. Estou seguro de que a sabedoria que até os dias atuais tem nos norteado também estará do nosso lado neste momento crucial que irá ditar o destino da nossa querida UNIFESP.
A consolidação do processo de expansão é outro tema que ocupará uma parcela significativa da nossa agenda, começando desde já, posto que o decreto do governo federal que criou o REUNI, um programa de reestruturação das universidades a partir da expansão já está batendo em nossa porta, e quanto antes iniciarmos a discussão interna, mais proveitoso será o fruto obtido desta proposta que prevê o refinanciamento a maior em até 20% do nosso orçamento de capital e custeio como um todo.
O sucesso da implantação e do princípio filosófico de ocupação do prédio de pesquisa 2 gerou a perspectiva da criação do prédio de pesquisa 3, e esta proposta está em pleno andamento, sendo que acabamos de ter aprovado via FAP o edital de infraestrutura da FINEP no valor de R$ 3.900.000 para início da sua construção. Para a sua conclusão, à semelhança do que ocorreu com o prédio de pesquisa 2 serão necessárias outras investidas que seguramente serão vencedoras.
Muitos outros temas terão ainda que compor nossa agenda de trabalho e sobre os quais teremos que nos debruçar com muita atenção neste próximo quatriênio. Não nos esqueçamos do compromisso de saneamento econômico-financeiro definitivo da SPDM, da implantação de linhas de pesquisa no novo laboratório de Biologia Molecular da COLSAN, continuar trabalhando junto à prefeitura para a implantação do projeto do Bairro Universitário, o salto de emancipação definitiva da FAP, a construção do prédio de salas de aula tão ansiosamente aguardado, e por fim, mas não menos importante, o término das obras de construção dos campi da Baixada Santista, Diadema, Guarulhos, São José dos Campos e da unidade de Santo Amaro.
Olhando este passado recente com a paixão que me é inerente quando o assunto é UNIFESP, mas também até onde o espírito crítico me permite alcançar, posso dizer sem medo de cometer equívoco maior, foi uma jornada vitoriosa. Entretanto, a vida de esportista me ensinou que as grandes vitórias podem ser traiçoeiras, podem esconder em seu bojo de forma escamoteada, às vezes de maneira quase imperceptível a sensação da invencibilidade, a qual nos leva inexoravelmente à tendência da acomodação e a perda do estímulo para novas conquistas. É, portanto, de fundamental importância que tenhamos sempre claro nas nossas mentes que muitas outras árduas batalhas nos esperam, e que para continuarmos trilhando nossa rota vitoriosa será necessário envidar um esforço redobrado para que possamos consolidar definitivamente as conquistas até agora alcançadas. Não podemos, tampouco, negligenciar a necessidade de atender as inúmeras demandas que ainda não foram devidamente equacionadas.
É com o espírito altamente alerta e disposto a enfrentar novos e excitantes desafios que seguiremos trabalhando pela nossa UNIFESP em benefício da nossa juventude. Carregamos no nosso cerne o sentimento bandeirante do destemor ao desconhecido, do desbravador de novos caminhos além do desejo constante de expandir nossas fronteiras. Crescer com excelência de qualidade é nosso lema maior, a universidade do futuro continua sendo construída, estamos honrando nossos fundadores que tão galhardamente enfrentaram e superaram as imensas barreiras que se lhes antepuseram, mas acreditaram que a luta valia a pena e que a bandeira por eles empunhada continuaria eternamente tremulando imaculada e gloriosa. Como bem disse nosso grande poeta Guilherme de Almeida, em 1936, logo após a fundação da Escola Paulista de Medicina: “aí está germinada a semente, aí está florescido o ideal, aí está frutificado o empreendimento”. Estamos fazendo a nossa parte em manter viva a tradição e o legado que nos foi confiado. Frutificamos e nos multiplicamos. Estamos edificando com amor em uma ação conjunta e solidária uma UNIFESP para todos cada vez maior e ainda melhor, a serviço de São Paulo e para a soberania do Brasil Figuras (75-76-77-78-79-80-81).
A consolidação de um grande desafio que foi conquistada com muita perseverança
O processo de expansão na graduação na UNIFESP começou, efetivamente, em 2004. A partir dos dados quantitativos dos documentos analisados, observou-se um aumento percentual de 500% no número de campi, 834% no número de vagas de ingresso e 980% no número de cursos. Além desse aumento quantitativo, a UNIFESP também diversificou sua área de atuação com a inclusão dos cursos de ciências humanas, sociais aplicadas e exatas. Considerou-se que o processo de expansão na Universidade, no período entre 2003 e 2012, pode ser considerado como único entre as IFES no Brasil, em relação ao que ocorreu no ensino superior público federal no país. Sua singularidade se dá tanto pelo potencial transformador dessa expansão como pelo crescimento do número de campi, cursos e matrículas da graduação, por meio de implementação de propostas pedagógicas inovadoras, bem como da diversificação de suas áreas de atuação, em relação aos parâmetros nacionais. Observou-se o caráter transformador que a expansão trouxe para a UNIFESP que, de uma universidade da área da saúde, passou para uma universidade plena.
Em 2003, a UNIFESP ainda se mantinha como uma universidade temática na área da saúde com importante papel no cenário acadêmico nacional e internacional. Possuía um único campus, situado na Vila Clementino, com cinco cursos de graduação: Medicina (1933), Enfermagem (1939), Ciências Biomédicas (1966), Fonoaudiologia (1968) e Tecnologia Oftálmica (1970), todos ligados à Escola Paulista de Medicina, com um total de 1.296 estudantes. (UNIFESP, Relatório de Gestão de 2003, novembro de 2003).
À época, apresentava um expressivo quadro de estudantes de pós-graduação stricto sensu com um total de 480 matriculados no Mestrado Profissional; de 1.366 no Mestrado Acadêmico; e de 1.206 no Doutorado. Existiam 11 programas de pós-graduação em nível de Mestrado Profissional; 30, em nível de Mestrado Acadêmico; e 37, em nível de Doutorado. (UNIFESP, Relatório de Gestão de 2003, novembro de 2003).
Na pós-graduação lato sensu, existiam 146 cursos (139 cursos de Especialização e 7 cursos de Aperfeiçoamento) com um total de 1.834 alunos matriculados (1.775 de Especialização e 59 em Aperfeiçoamento). Na Residência Médica, o número de alunos, matriculados nos 41 programas credenciados pela Comissão Nacional de Residência Médica, era de 454. (UNIFESP, Relatório de Gestão de 2003, novembro de 2003).
No final do ano de 2007 a UNIFESP estava assim configurada, conforme demonstra o Quadro 1:
Em síntese: no período de 2003 a 2007, a UNIFESP aumentou de 1 para 5 campi e contava com 273 vagas distribuídas em 5 cursos de graduação em 2004. Em 2005, o número de vagas aumentou em 10%, devido ao Programa de Ações Afirmativas, passando para 300. Em 2006, com a expansão para o campus Baixada Santista, a UNIFESP passou a ter 10 cursos e a ofertar 490 vagas, o que representou um aumento de 63%. Em 2007, com a expansão para os campi de Diadema, Guarulhos e São José dos Campos, a UNIFESP passou a ofertar 1.150 vagas, distribuídas em 23 cursos, o que significou um aumento de 135%. (UNIFESP, Balanço do Primeiro ano do REUNI da UNIFESP, de 31 de outubro de 2009). Este crescimento está demonstrado no Gráfico 9:
No período analisado, ocorreu um crescimento no número dos cursos de graduação na instituição: de 5 cursos em 2003, para 23, em 2007, num total de 18 cursos a mais. O Gráfico 10 mostra que, nos anos de 2003, 2004, o número de cursos se manteve, porém, de 2005 para 2006, o crescimento foi de 5 novos cursos e de 2006 para 2007 foi de 13.
O Gráfico 11 demonstra o crescimento de 1.016 novas matrículas nos cursos de graduação, na primeira fase da expansão: de 1.296 matrículas em 2003, para 2.312, em 2007. Os dados mostraram um crescimento mais significativo de matrículas com o início de novos campi e cursos na UNIFESP: de 2005 para 2006 foram 217 matrículas e de 2006 para 2007, foram 776.
A partir desse quadro situacional, o processo de expansão da UNIFESP foi significativo em relação à graduação, à pós-graduação (lato e stricto sensu), à pesquisa e à extensão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a devida consideração e respeito, apropriando-me do texto de Maria Bernadete, encerro este trabalho, que como exposto no preâmbulo, já deveria ter sido escrito há alguns anos. Aproveito este espaço para prestar meu preito de gratidão à Maria Bernadete, porque a partir da leitura do seu brilhante trabalho de Tese de Mestrado Profissional, despertou em mim a chama que se fazia necessária, para que eu me sentisse devidamente estimulado a reviver um passado heroico da minha vida como dirigente universitário e da qual muito me orgulho.
“O processo de expansão da UNIFESP, ocorrido no período compreendido entre 2003 e 2008, pode ser considerado como único entre as IFES brasileiras, se for levado em conta o que ocorreu no ensino superior público federal no país. Em relação aos parâmetros nacionais, a sua singularidade se dá tanto pelo potencial transformador dessa expansão quanto pelo crescimento do número de campi, dos cursos e das matrículas de graduação.
A UNIFESP se tornou a primeira universidade brasileira especializada em saúde. Na ocasião de sua criação em 1994, abrigava cinco cursos de graduação em um único campus. Era uma universidade pública que tinha, por objetivo, desenvolver, em nível de excelência, atividades inter-relacionadas de ensino, de pesquisa e extensão, com ênfase no campo específico das ciências da saúde.
Em 2003, a UNIFESP, ainda como uma universidade temática da saúde, decidiu pelo aumento do número de vagas de graduação e se engajou no Programa de Expansão das Universidades Federais. Efetivamente, a etapa inicial desse processo de expansão começou em 2004, ano em que foi proposta, no CONSU, a criação do campus Baixada Santista e da Unidade de Santo Amaro. A expansão estava voltada, até então, para aquelas áreas do conhecimento que dialogassem com os cursos e atividades em funcionamento no campo das ciências da saúde, por entender ser essa a expertise da instituição
Com os novos campi, a contar do ano de 2007, a UNIFESP caminhou em direção às humanidades e a outras áreas, as quais, até aquele momento, não estavam presentes na instituição. Todavia, era necessário que essas novas áreas tivessem relação com as ciências da saúde. Começou, igualmente, a oferta de cursos noturnos, em cumprimento a uma das metas estabelecidas pelo governo federal.
A partir desse mesmo ano, o processo de expansão da UNIFESP foi dinâmico e significativo. As discussões no CONSU, órgão máximo da instituição na tomada de decisão, acerca da criação e implantação de novos campi (Baixada Santista, Diadema, Guarulhos, São José dos Campos e Osasco), bem como de novas áreas do conhecimento e cursos, foram marcadas por reuniões bastante dinâmicas, tornando-se assunto recorrente em todas as instâncias superiores da universidade.
Vale salientar que esse movimento de criação de novos campi e cursos ocorreu de maneira peculiar e acompanhou o processo de expansão das IFES, proposto pelo governo federal. Nesse sentido, observa-se que a criação e a implantação do campus Baixada Santista foram discutidas de modo mais intenso, no decorrer dos anos de 2004 e 2005. Esse foi o primeiro campus fora da sede principal, o que levou à necessidade de mudança de estatuto.
Enquanto o campus Baixada Santista caminhava para se concretizar, academicamente, surgiram novas possibilidades para a criação de novos campi nas cidades de Diadema, Guarulhos e São José dos Campos. Dessa vez, a discussão se deu de modo mais rápido nos conselhos superiores, devido à rapidez do processo geral de expansão das IFES e da necessidade de tomadas de decisão, no momento histórico pelo qual passava o país
Para que se entenda a dimensão da expansão da UNIFESP na primeira fase, compreendida entre 2003 e 2007, faz-se necessária a comparação do seu crescimento em relação ao crescimento das demais universidades federais. A UNIFESP teve um crescimento de 400% no número de campi, enquanto, no Brasil, o crescimento total de campi nas universidades federais foi de 53%. O número de vagas de graduação aumentou em 321% na UNIFESP e 53% em nível nacional, nas IFES. O aumento do número de cursos da UNIFESP foi de 360% e, do total das universidades federais, foi de 28%.
Numa perspectiva regional, o crescimento do número de campus da UNIFESP na primeira fase da expansão correspondeu a 20% do total de campus criados em toda a região sudeste (aumento de 1 para 5 campi).
Observa-se que a UNIFESP se empenhou em consolidar seus campi e cursos por meio de implementação de propostas pedagógicas inovadoras, bem como da diversificação de suas áreas de atuação. Assim, aumentou sua área de conhecimento, das ciências da saúde para as ciências humanas, sociais aplicadas e exatas.
No cenário da expansão no Brasil, é importante salientar a relevância da UNIFESP como uma das universidades que mais cresceu, pois, além de ampliar o número de campi, de vagas e de cursos, a instituição também diversificou sua área de atuação na graduação.
Apesar do ritmo intenso da expansão, considera-se que esta proporcionou à UNIFESP a oportunidade da interiorização e da ampliação do seu compromisso social, como uma universidade pública e, socialmente, referenciada. Além de expandir, consideravelmente, o número de vagas e a possibilidade de escolha de diferentes áreas profissionais, a universidade implantou o ensino noturno, tão necessário para a sociedade.
Observa-se, claramente, o caráter transformador que a expansão trouxe para a UNIFESP que, saiu de uma universidade da área da saúde para uma universidade plena”.
Em conclusão, posso afirmar sem receio de cometer qualquer equívoco, que a implantação e a consolidação do projeto de expansão foram a maior marca da minha gestão. Devo ressaltar que este foi um trabalho de equipe, um grupo coeso da mais alta qualificação profissional, determinado em promover uma mudança de paradigma da UNIFESP. Também devo assinalar que tudo o que foi feito em termos da expansão, uma verdadeira revolução na nossa estrutura universitária, teria sido impossível de ser concretizada, se não tivéssemos contado com o firme apoio dos membros do Conselho Universitário, mesmo havendo, em determinados momentos, algumas poucas vozes dissonantes (Figuras 82-83-84-85).